Diferentemente do que o título expressa, este texto não é primariamente sobre Zika, nem sobre microcefalia. Falarei todo o tempo sobre isso, mas o verdadeiro assunto é outro, mais genérico. O tema desta postagem é sobre miopia científica ou arrogância epistêmica. Estes, sim, seriam títulos mais representativos da ideia.
O crescimento no Brasil da incidência de Zika e aparentemente de microcefalia constituem uma interessante história de geração de hipótese: Zika causa microcefalia. Se bem aproveitada, dará bons frutos científicos. Por outro lado, a forma como esta hipótese científica foi transformada em fato nas publicações da imprensa leiga, respaldadas por especialistas, ganhou ares de ficção científica.
Ficção científica um termo pertinente e paradoxal. Paradoxal, pois o que é ciência não é ficção; pertinente pois este paradoxo é bastante prevalente.
Este representa um caso caricatural da violação do princípio científico da hipótese nula. São casos como estes que Nassim Taleb, cientista da incerteza na Universidade de Massachussets, denomina de arrogância epistêmica. Este é um fenômeno comum da mente humana que, por questões evolutivas, tende a subestimar a incerteza presente em hipóteses.
Isto fica mais evidente quando percebemos que, ao longo das últimas semanas, a força de convicção das afirmações a favor da relação causal entre Zika e microcefalia cresceu exponencialmente, a despeito da ausência de evidências reais. É o fenômeno da manada, quanto mais se fala mais a história ganha ares de fato, sem que haja qualquer associação entre o crescimento da convicção e o aumento do nível de evidência.
São inúmeras as reportagens impressas e televisivas. Não coloco jornalistas como meros criadores de fatos, pois estes acompanham afirmações de profissionais que tem (suposta) autoridade para falar no assunto.
Um médico no Fantástico recomendou às mulheres de 30 anos (que teoricamente possuem mais tempo) a não engravidar, enquanto as de 40 anos fazê-lo, desde que cuidadosamente. Em paralelo, a Revista Veja diz: “A relação entre Zika e microcefalia fetal está 100% comprovada”. E justifica sua afirmação: “O Ministério da Saúde confirmou o fato após detectar o vírus em um bebê com microcefalia que foi a óbito”.
Há também aqueles que reconhecem a necessidade de comprovação definitiva, porém falam com a conotação de fato. Dizem que “tudo indica”, ao passo em que recomendam “medidas de prevenção” (são medidas mesmo?). Estes aparentam preservar o princípio da hipótese nula, porém fazem o contrário. Utilizam deste princípio para gerar uma aparência cientifica de mais credibilidade, sem perceber que já rejeitaram a hipótese nula quando fazem o mundo se comportar como se a causalidade estivesse estabelecida.
Precisamos refletir quais os danos versus as vantagens da rejeição precipitada da hipótese nula. Por que será que, em geral, o pensamento científico considera que o erro tipo I (afirmar algo falso - toleramos 5% deste erro) é cientificamente mais grave do que o erro tipo II (não afirmar algo verdadeiro - toleramos um risco de 20% deste erro). Esta é uma válida reflexão para este momento.
Considerando que o adequado combate à Zika deve ocorrer independentemente da criação de fatos pseudo-científicos, precisamos refletir se esta miopia científica traz (individual e culturalmente) mais benefícios ou prejuízos. A miopia científica fica evidente quando observamos a grande lacuna entre o pensamento humano cotidiano e a forma científica de raciocinar.
De fato, alguns acham que ciência é uma coisa, vida prática é outra. Em artigo na Folha de São Paulo, após afirmar que “não tenho dúvida do elo entre Zika e Microcefalia”, o diretor da OPAS diz: “alguns cientistas acreditam que é preciso mais provas, mas como profissional de saúde não tenho dúvida”. Observem que a frase propõe uma lacuna entre ciência e vida prática. Isto mostra que alguns não entendem bem que ciência nada mais é do que a forma mais honesta de retratar a natureza. Digo honesta, pois o método científico não serve para criar conhecimento. Serve para descrever o mundo, prevenindo-se contra fenômenos cientificamente reconhecidos: vieses cognitivos, vieses de observação e efeito do acaso.
Nosso problema é que, na história da humanidade, só muito recentemente o pensar científico contribui para nossa sobrevivência individual. Mas quanto à sobrevivência da espécie, ainda não deu tempo do pensar contribuir suficientemente. A nossa seleção natural se deu não pela capacidade de pensar, mas pela capacidade de correr. Talvez os que pensaram morreram mais (pois corriam menos). Por este motivo, ser cético e questionador não é nosso estado natural, precisamos nos condicionar ao paradigma científico.
Karl Popper, o maior filósofo científico do século passado, propôs que a comprovação de uma hipótese deve passar pelo processo de tentar refutá-la. Devemos começar acreditando na nulidade e mudarmos de ideia quando a evidência a favor do fenômeno ultrapassar um limiar inferior de dúvida.
O caso Zika e microcefalia mostra que ainda não entendemos o que Popper propôs. Ainda não entendemos o papel da hipótese nula. Assim, a miopia científica prevalece, com seus diversos componentes a serem descritos abaixo.
Miopia da Incerteza
Na miopia da incerteza, não percebemos o quanto incertas são coisas que “fazem sentido”. Somos apaixonadas por nossa lógica, sem perceber que esta serve para dar plausibilidade às hipóteses, não para gerar fatos (exceto na plausibilidade extrema).
Estamos repletos de exemplos em medicina de hipóteses que faziam todo sentido, porém funcionaram ao contrário. São estas mesmas hipóteses que geram reação emocional neste Blog, quando mostramos evidências contrárias a crenças lógicas, porém incertas. Achamos que podemos acreditar, desde que tenhamos alguma forma de explicar.
Faz sentido de que Zika seja a responsável pelo suposto aumento de microcefalia, por três motivos: certos vírus podem alterar a embriogênese do sistema nervoso no primeiro trimestre; Zika está em crescimento; microcefalia está em crescimento. Dadas estas premissas, as pessoas concluem que Zika causa microcefalia, sem perceberem que fazer sentido não é o mesmo que ser um fato. Os especialistas que fazem afirmações certas ou quasi-certas deste pseudo-fato não percebem o grau de incerteza presente na hipótese.
Miopia de Hipóteses
Este é um viés cognitivo causado pela análise retrospectiva da história dos descobrimentos científicos. Explicarei.
Retrospectivamente, o mundo ganha um aspecto platônico, parecendo que tudo fazia muito sentido antes da comprovação. Mas, este mundo funciona de outra forma. Na verdade, para cada explicação comprovada com base em evidências, existiram inúmeras hipóteses, e nem sempre a que parecia mais lógica foi a que venceu. As hipóteses que perderam ganham o status de silenciosas, não nos lembraremos delas, ficando apenas a hipótese vencedora como parte da narração da história. Assim, parece que um descobrimento foi feito por uma hipótese gerada, testada e comprovada. Um mundo platônico, uni-hipotético.
Na verdade, para cada descoberta, há inúmeras hipóteses que perderam, dentre as quais usualmente está a mais provável das hipóteses. E normalmente, a hipótese favorita tem menor probabilidade de perder do que de ganhar. Ser a mais provável, não quer dizer ser muito provável.
Modelos estatísticos multifatoriais previam que a seleção brasileira era a favorita para ganhar a copa do mundo de 2014, porém a probabilidade calculada era menor que 50%. Embora fosse a favorita, era mais provável que perdesse. Simplesmente porque haviam muitas hipóteses (seleções) concorrendo.
Esta falta de entendimento faz com que as pessoas superestimem a probabilidade da Zika ser a explicação, a ponto de julgar isso como algo confirmado ou fortemente sugestivo.
Observem o vencedor de uma maratona olímpica. Diferente dos 100 metros rasos, este tipo de prova tem o resultado influenciado por um processo mais complexo. É quase imprevisível saber quem vai ganhar, na realidade todos tem quase a mesma probabilidade. Por outro lado, depois do término da corrida, o vencedor ganha o título de ser o melhor e passa a fazer muito sentido ele ter sido o vencedor. Encontramos sempre explicações, talento, treinamento, etc. Depois do resultado, nossa mente superestima a probabilidade prévia daquele resultado. A isso se chama falácia narrativa, quando qualquer evento importante ganha uma explicação óbvia depois de ocorrido.
Pessoalmente, se fosse para apostar, eu colocaria meu dinheiro na Zika. Mas não colocaria muito dinheiro, pois mesmo sendo a escolhida como mais provável, a probabilidade de Zika ganhar é pequena.
Ser a mais provável, não quer dizer ser muito provável.
Miopia Epidemiológica
Esta é caracterizada por confundirmos os conceitos básicos de coexistência e associação.
O termo “associação” (ou relação) é o mais utilizado nas notícias sobre zika e microcefalia. No entanto, tem sido utilizado de forma equivocada e rudimentar. Inúmeros especialistas e jornalistas mencionam associação, porém na verdade este exemplo é de coexistência. Até então não presenciei qualquer relato sobre associação, nem mesmo uma menção de curiosidade a respeito.
“Uma mãe cujo filho nasceu com microcefalia pode ter tido Zika no primeiro trimestre”. Ou: “identificaram o vírus em dois casos que nasceram com microcefalia”. Isso não é associação, pois falta o outro lado da história, a evidência silenciosa. O lado silencioso da história são os casos de normocefalia com história de Zika e os casos de microcefalia sem história de Zika.
Qual a proporção de Zika na gravidez de casos de microcefalia, comparada à proporção de Zika na gravidez de crianças que nasceram normais? Se não há dados ainda, deste que seria um estudo caso-controle, pelo menos olhemos a nossa volta e perceberemos que devem ser muitos os casos de normocefalia que tiveram Zika. Precisamos valorizar mais a dúvida.
É total miopia epidemiológica falar em associação. Mas mesmo se a associação fosse comprovada, esta seria apenas o primeiro passo na demonstração de causalidade. Há muitas associações verdadeiras, porém não causais. Observem a associação abaixo descrita, publicada no New England Journal of Medicine. Será que é causal?
O crescimento no Brasil da incidência de Zika e aparentemente de microcefalia constituem uma interessante história de geração de hipótese: Zika causa microcefalia. Se bem aproveitada, dará bons frutos científicos. Por outro lado, a forma como esta hipótese científica foi transformada em fato nas publicações da imprensa leiga, respaldadas por especialistas, ganhou ares de ficção científica.
Ficção científica um termo pertinente e paradoxal. Paradoxal, pois o que é ciência não é ficção; pertinente pois este paradoxo é bastante prevalente.
Este representa um caso caricatural da violação do princípio científico da hipótese nula. São casos como estes que Nassim Taleb, cientista da incerteza na Universidade de Massachussets, denomina de arrogância epistêmica. Este é um fenômeno comum da mente humana que, por questões evolutivas, tende a subestimar a incerteza presente em hipóteses.
Isto fica mais evidente quando percebemos que, ao longo das últimas semanas, a força de convicção das afirmações a favor da relação causal entre Zika e microcefalia cresceu exponencialmente, a despeito da ausência de evidências reais. É o fenômeno da manada, quanto mais se fala mais a história ganha ares de fato, sem que haja qualquer associação entre o crescimento da convicção e o aumento do nível de evidência.
São inúmeras as reportagens impressas e televisivas. Não coloco jornalistas como meros criadores de fatos, pois estes acompanham afirmações de profissionais que tem (suposta) autoridade para falar no assunto.
Um médico no Fantástico recomendou às mulheres de 30 anos (que teoricamente possuem mais tempo) a não engravidar, enquanto as de 40 anos fazê-lo, desde que cuidadosamente. Em paralelo, a Revista Veja diz: “A relação entre Zika e microcefalia fetal está 100% comprovada”. E justifica sua afirmação: “O Ministério da Saúde confirmou o fato após detectar o vírus em um bebê com microcefalia que foi a óbito”.
Há também aqueles que reconhecem a necessidade de comprovação definitiva, porém falam com a conotação de fato. Dizem que “tudo indica”, ao passo em que recomendam “medidas de prevenção” (são medidas mesmo?). Estes aparentam preservar o princípio da hipótese nula, porém fazem o contrário. Utilizam deste princípio para gerar uma aparência cientifica de mais credibilidade, sem perceber que já rejeitaram a hipótese nula quando fazem o mundo se comportar como se a causalidade estivesse estabelecida.
Precisamos refletir quais os danos versus as vantagens da rejeição precipitada da hipótese nula. Por que será que, em geral, o pensamento científico considera que o erro tipo I (afirmar algo falso - toleramos 5% deste erro) é cientificamente mais grave do que o erro tipo II (não afirmar algo verdadeiro - toleramos um risco de 20% deste erro). Esta é uma válida reflexão para este momento.
Considerando que o adequado combate à Zika deve ocorrer independentemente da criação de fatos pseudo-científicos, precisamos refletir se esta miopia científica traz (individual e culturalmente) mais benefícios ou prejuízos. A miopia científica fica evidente quando observamos a grande lacuna entre o pensamento humano cotidiano e a forma científica de raciocinar.
De fato, alguns acham que ciência é uma coisa, vida prática é outra. Em artigo na Folha de São Paulo, após afirmar que “não tenho dúvida do elo entre Zika e Microcefalia”, o diretor da OPAS diz: “alguns cientistas acreditam que é preciso mais provas, mas como profissional de saúde não tenho dúvida”. Observem que a frase propõe uma lacuna entre ciência e vida prática. Isto mostra que alguns não entendem bem que ciência nada mais é do que a forma mais honesta de retratar a natureza. Digo honesta, pois o método científico não serve para criar conhecimento. Serve para descrever o mundo, prevenindo-se contra fenômenos cientificamente reconhecidos: vieses cognitivos, vieses de observação e efeito do acaso.
Nosso problema é que, na história da humanidade, só muito recentemente o pensar científico contribui para nossa sobrevivência individual. Mas quanto à sobrevivência da espécie, ainda não deu tempo do pensar contribuir suficientemente. A nossa seleção natural se deu não pela capacidade de pensar, mas pela capacidade de correr. Talvez os que pensaram morreram mais (pois corriam menos). Por este motivo, ser cético e questionador não é nosso estado natural, precisamos nos condicionar ao paradigma científico.
Karl Popper, o maior filósofo científico do século passado, propôs que a comprovação de uma hipótese deve passar pelo processo de tentar refutá-la. Devemos começar acreditando na nulidade e mudarmos de ideia quando a evidência a favor do fenômeno ultrapassar um limiar inferior de dúvida.
O caso Zika e microcefalia mostra que ainda não entendemos o que Popper propôs. Ainda não entendemos o papel da hipótese nula. Assim, a miopia científica prevalece, com seus diversos componentes a serem descritos abaixo.
Miopia da Incerteza
Na miopia da incerteza, não percebemos o quanto incertas são coisas que “fazem sentido”. Somos apaixonadas por nossa lógica, sem perceber que esta serve para dar plausibilidade às hipóteses, não para gerar fatos (exceto na plausibilidade extrema).
Estamos repletos de exemplos em medicina de hipóteses que faziam todo sentido, porém funcionaram ao contrário. São estas mesmas hipóteses que geram reação emocional neste Blog, quando mostramos evidências contrárias a crenças lógicas, porém incertas. Achamos que podemos acreditar, desde que tenhamos alguma forma de explicar.
Faz sentido de que Zika seja a responsável pelo suposto aumento de microcefalia, por três motivos: certos vírus podem alterar a embriogênese do sistema nervoso no primeiro trimestre; Zika está em crescimento; microcefalia está em crescimento. Dadas estas premissas, as pessoas concluem que Zika causa microcefalia, sem perceberem que fazer sentido não é o mesmo que ser um fato. Os especialistas que fazem afirmações certas ou quasi-certas deste pseudo-fato não percebem o grau de incerteza presente na hipótese.
Miopia de Hipóteses
Este é um viés cognitivo causado pela análise retrospectiva da história dos descobrimentos científicos. Explicarei.
Retrospectivamente, o mundo ganha um aspecto platônico, parecendo que tudo fazia muito sentido antes da comprovação. Mas, este mundo funciona de outra forma. Na verdade, para cada explicação comprovada com base em evidências, existiram inúmeras hipóteses, e nem sempre a que parecia mais lógica foi a que venceu. As hipóteses que perderam ganham o status de silenciosas, não nos lembraremos delas, ficando apenas a hipótese vencedora como parte da narração da história. Assim, parece que um descobrimento foi feito por uma hipótese gerada, testada e comprovada. Um mundo platônico, uni-hipotético.
Na verdade, para cada descoberta, há inúmeras hipóteses que perderam, dentre as quais usualmente está a mais provável das hipóteses. E normalmente, a hipótese favorita tem menor probabilidade de perder do que de ganhar. Ser a mais provável, não quer dizer ser muito provável.
Modelos estatísticos multifatoriais previam que a seleção brasileira era a favorita para ganhar a copa do mundo de 2014, porém a probabilidade calculada era menor que 50%. Embora fosse a favorita, era mais provável que perdesse. Simplesmente porque haviam muitas hipóteses (seleções) concorrendo.
Esta falta de entendimento faz com que as pessoas superestimem a probabilidade da Zika ser a explicação, a ponto de julgar isso como algo confirmado ou fortemente sugestivo.
Observem o vencedor de uma maratona olímpica. Diferente dos 100 metros rasos, este tipo de prova tem o resultado influenciado por um processo mais complexo. É quase imprevisível saber quem vai ganhar, na realidade todos tem quase a mesma probabilidade. Por outro lado, depois do término da corrida, o vencedor ganha o título de ser o melhor e passa a fazer muito sentido ele ter sido o vencedor. Encontramos sempre explicações, talento, treinamento, etc. Depois do resultado, nossa mente superestima a probabilidade prévia daquele resultado. A isso se chama falácia narrativa, quando qualquer evento importante ganha uma explicação óbvia depois de ocorrido.
Pessoalmente, se fosse para apostar, eu colocaria meu dinheiro na Zika. Mas não colocaria muito dinheiro, pois mesmo sendo a escolhida como mais provável, a probabilidade de Zika ganhar é pequena.
Ser a mais provável, não quer dizer ser muito provável.
Miopia Epidemiológica
Esta é caracterizada por confundirmos os conceitos básicos de coexistência e associação.
O termo “associação” (ou relação) é o mais utilizado nas notícias sobre zika e microcefalia. No entanto, tem sido utilizado de forma equivocada e rudimentar. Inúmeros especialistas e jornalistas mencionam associação, porém na verdade este exemplo é de coexistência. Até então não presenciei qualquer relato sobre associação, nem mesmo uma menção de curiosidade a respeito.
“Uma mãe cujo filho nasceu com microcefalia pode ter tido Zika no primeiro trimestre”. Ou: “identificaram o vírus em dois casos que nasceram com microcefalia”. Isso não é associação, pois falta o outro lado da história, a evidência silenciosa. O lado silencioso da história são os casos de normocefalia com história de Zika e os casos de microcefalia sem história de Zika.
Qual a proporção de Zika na gravidez de casos de microcefalia, comparada à proporção de Zika na gravidez de crianças que nasceram normais? Se não há dados ainda, deste que seria um estudo caso-controle, pelo menos olhemos a nossa volta e perceberemos que devem ser muitos os casos de normocefalia que tiveram Zika. Precisamos valorizar mais a dúvida.
É total miopia epidemiológica falar em associação. Mas mesmo se a associação fosse comprovada, esta seria apenas o primeiro passo na demonstração de causalidade. Há muitas associações verdadeiras, porém não causais. Observem a associação abaixo descrita, publicada no New England Journal of Medicine. Será que é causal?
Outros
falam em associação temporal. É mais uma miopia epidemiológica, pois sabemos
que associação temporal é uma grande falácia. Coisas podem crescer ou decrescer
juntas, sem que haja qualquer relação causal. Ao longo do tempo uma criança
fica maior em altura e ao mesmo tempo sua habilidade de leitura aumenta. Isso
quer dizer que quanto mais alta uma pessoa, maior a habilidade com línguas?
Portanto, não podemos falar em associação, quanto mais em causalidade. Ainda estamos muito longe do que poderia ser considerado algo provável. Ainda estamos muito longe do limite de rejeição da hipótese nula. Muito longe do que poderia ser considerado algo provável.
Miopia Estatística
Essa é a mais banal das miopias, a qual decorre da falta de percepção de que precisamos de um denominador para quantificar o risco dos desfechos. Este denominador não tem sido apresentado nos depoimentos dos médicos ou reportagens da imprensa.
Fala-se em um crescimento grande do número de registros de microcefalia, de 30 casos para 1.200 casos em 3 meses. Isto é bastante assustador e o número que passa dos milhares traz a conotação de um grande risco. As grávidas entram em pânico quando se fala em 1.200 casos. No entanto, risco é uma probabilidade, advinda do total de desfechos dividido pelo total de pessoas vulneráveis ao desfecho. Desta forma, dividindo-se 1.200 pelo número médio de nascidos-vivos em um período de 3 meses (em torno de 600.000), chegamos a um risco de 0.19% de uma criança nascer com microcefalia nestes últimos meses, dada todas as possíveis causas, não apenas Zika. Se considerarmos o cenário otimista de que metade destes casos decorrem de Zika, diremos que 0.095% é o risco de microcefalia por Zika. Isto justifica pânico?
A miopia estatística (básica) faz com que médicos recomendem no Fantástico que mulheres deixem de engravidar. Estes se esquecem que o conjunto de outras possíveis infecções que causam sequelas em bebês ultrapassa em muito o risco de microcefalia por Zika, se este risco for verdadeiro. Segundo meus consultores obstétricos: citomegalovírus 2.6% de incidência de infecção, toxoplasmose 1.6%, sífilis 0.5%, herpes 0.2%, só para falar alguns. E 40-50% dos fetos afetados por estas infecções apresentam sequelas.
Por que só agora recomendamos não engravidar? Ou colocado de outra forma: o número (com denominador) justifica o pânico?
O que Kant diria?
Percepção = sentidos + inconsciente.
Segundo Kant, a interpretação que damos ao que vemos é involuntária e incontrolavelmente influenciada pelo inconsciente. Sua filosofia foi mais tarde confirmada por psicólogos cognitivos. Na postagem Ensaio sobre a Cegueira, discutimos como seria importante que a interpretação de métodos de imagem ou do exame físico fosse cega em relação à probabilidade pré-teste, ou seja, ao quadro clínico ou epidemiológico.
Ao se deparar com a atual epidemia de microcefalia, Kant se perguntaria se o aumento do número de casos poderia decorrer de um problema de percepção influenciado pelo cognitivo de pessoas já influenciadas pelo modismo.
Talvez esse raciocínio pareça demasiadamente cético quando sugerimos a não existência do problema. Por outro lado, este mesmo raciocínio se torna demasiadamente plausível quando pensamos na possibilidade de superestimativa do problema.
Não há dúvida que a mente dos diagnosticadores de microcefalia está enviesada involuntariamente pelo modismo, o que implica em uma noção de probabilidade pré-teste aumentada. Para agravar, encontramos o conforto cognitivo, que se apresenta quando se torna mais confortável laudar de acordo com o mundo externo do que de forma independente. Isto faz com que médicos prefiram ampliar sua sensibilidade, em detrimento da especificidade. Isto pode gerar uma banalização dos diagnósticos.
Como cardiologista, sei o quanto pode ser subjetivo laudar uma disfunção sistólica do ventrículo esquerdo ou calcular uma fração de ejeção, número mágico para quem não passa pelo processo de quantificação. Porém nada entendo de obstetrícia ou ultrassom obstétrico. Por isso, perguntei a especialistas de mente científica e a resposta foi semelhante ao que vivencio na ecocardiografia. Há subjetividade em muitos casos. Na dúvida, de que forma se comportam os diagnosticadores neste momento particular de modismo? E como se comportavam antes?
Pouco se falava do problema, portanto a sensibilidade dos médicos não estava voltada para isso. Hoje, a principal ideia que está na mente de um ultrassonografista (e da coitada da grávida) antes do exame é se há sinais de microcefalia.
No sistema público de saúde, provavelmente menos grávidas faziam ultrassom. Hoje vemos mutirões de ultrassom. E os médicos que fazem os exames estão muito mais atentos. Isso tudo indica que é muito plausível acreditar que no passado havia subnotificação.
Desta forma, há plausível subnotificação do passado e supernotificação do presente. Quantitativamente, parte do problema é criada por isso. Pelo menos parte do problema.
Reflexões Finais
Até o momento, tivemos acesso a apenas relatos de coexistência Zika-microcefalia publicados pela imprensa leiga, que desconsideram o lado silencioso das evidências. Ainda não dispomos de publicações em revistas científicas, aquelas que seguem um rigor na descrição dos métodos e resultados da pesquisa, passando pelo crivo da revisão por pares.
Tais artigos surgirão em revistas científicas. Como todo estudo, estes deverão passar pelo crivo da análise do nível de evidências. Mas, devemos estar atentos para a particularidade maior desta questão cientifica: a hipótese nula foi precipitadamente rejeitada, abrindo guarda aos vieses de confirmação e publicação.
Nassim Taleb aborda bem o problema dos especialistas em seu livro A Lógica do Cisne Negro. Especialistas de atividades que lidam com incerteza sofrem do problema da auto-ilusão. É por este motivo que comentaristas políticos erram muito mais do que modelos estatísticos de previsão de eleições. A arrogância epistêmica obstrui a habilidade preditiva de especialistas e suas ideias se tornam pegajosas. Depois de criadas, fica pouco provável de mudar. É o fenômeno de perseverança da crença, quando as ideias são tratadas como propriedades pessoais, da qual não queremos nos desfazer. É quando muitos convictos pesquisadores tendem a procurar confirmação de suas ideias a todo custo, vibrando quanto encontram resultados positivos, mesmo que à custa de P-value hacking, problema das múltiplas comparações ou vies de publicação.
Entre a ausência de evidencias sobre uma questão (estado atual) e a resposta definitiva, normalmente existe uma lacuna repleta de estudos pequenos, de qualidade mediana, cuja divulgação é regida pelo viés de publicação de evidências positivas. Isto estenderá o obscurantismo científico, até que em algum momento saberemos a verdade.
No mundo em que a hipótese nula foi violada, é indispensável que os diagnósticos Zika e microcefalia sejam feitos de forma cega e independente. Resultados definitivos virão de estudos prospectivamente desenhados, com hipóteses e desfechos primários definidos a priori.
Enquanto isso, grávidas devem evitar se expor a qualquer tipo de doença infecciosa e outros agentes sabidamente teratogênicos como sempre fizeram. Devem também evitar um demasiado envolvimento com recomendações caricaturais contra Zika. E devem estar cientes de que não há razão probabilística (risco absoluto) para que o pânico roube a tranquilidade de suas gestações.
Se Zika é responsável pelo crescimento dos casos de microcefalia, por enquanto não sabemos.
Mas a pergunta primordial desta postagem é outra: sabemos distinguir entre fato e ficção?
* Texto escrito por Luis Correia e Denise Matias, com colaboração intelectual dos obstetras Allan Silva e Leomar Lyrio.
Miopia Estatística
Essa é a mais banal das miopias, a qual decorre da falta de percepção de que precisamos de um denominador para quantificar o risco dos desfechos. Este denominador não tem sido apresentado nos depoimentos dos médicos ou reportagens da imprensa.
Fala-se em um crescimento grande do número de registros de microcefalia, de 30 casos para 1.200 casos em 3 meses. Isto é bastante assustador e o número que passa dos milhares traz a conotação de um grande risco. As grávidas entram em pânico quando se fala em 1.200 casos. No entanto, risco é uma probabilidade, advinda do total de desfechos dividido pelo total de pessoas vulneráveis ao desfecho. Desta forma, dividindo-se 1.200 pelo número médio de nascidos-vivos em um período de 3 meses (em torno de 600.000), chegamos a um risco de 0.19% de uma criança nascer com microcefalia nestes últimos meses, dada todas as possíveis causas, não apenas Zika. Se considerarmos o cenário otimista de que metade destes casos decorrem de Zika, diremos que 0.095% é o risco de microcefalia por Zika. Isto justifica pânico?
A miopia estatística (básica) faz com que médicos recomendem no Fantástico que mulheres deixem de engravidar. Estes se esquecem que o conjunto de outras possíveis infecções que causam sequelas em bebês ultrapassa em muito o risco de microcefalia por Zika, se este risco for verdadeiro. Segundo meus consultores obstétricos: citomegalovírus 2.6% de incidência de infecção, toxoplasmose 1.6%, sífilis 0.5%, herpes 0.2%, só para falar alguns. E 40-50% dos fetos afetados por estas infecções apresentam sequelas.
Por que só agora recomendamos não engravidar? Ou colocado de outra forma: o número (com denominador) justifica o pânico?
O que Kant diria?
Percepção = sentidos + inconsciente.
Segundo Kant, a interpretação que damos ao que vemos é involuntária e incontrolavelmente influenciada pelo inconsciente. Sua filosofia foi mais tarde confirmada por psicólogos cognitivos. Na postagem Ensaio sobre a Cegueira, discutimos como seria importante que a interpretação de métodos de imagem ou do exame físico fosse cega em relação à probabilidade pré-teste, ou seja, ao quadro clínico ou epidemiológico.
Ao se deparar com a atual epidemia de microcefalia, Kant se perguntaria se o aumento do número de casos poderia decorrer de um problema de percepção influenciado pelo cognitivo de pessoas já influenciadas pelo modismo.
Talvez esse raciocínio pareça demasiadamente cético quando sugerimos a não existência do problema. Por outro lado, este mesmo raciocínio se torna demasiadamente plausível quando pensamos na possibilidade de superestimativa do problema.
Não há dúvida que a mente dos diagnosticadores de microcefalia está enviesada involuntariamente pelo modismo, o que implica em uma noção de probabilidade pré-teste aumentada. Para agravar, encontramos o conforto cognitivo, que se apresenta quando se torna mais confortável laudar de acordo com o mundo externo do que de forma independente. Isto faz com que médicos prefiram ampliar sua sensibilidade, em detrimento da especificidade. Isto pode gerar uma banalização dos diagnósticos.
Como cardiologista, sei o quanto pode ser subjetivo laudar uma disfunção sistólica do ventrículo esquerdo ou calcular uma fração de ejeção, número mágico para quem não passa pelo processo de quantificação. Porém nada entendo de obstetrícia ou ultrassom obstétrico. Por isso, perguntei a especialistas de mente científica e a resposta foi semelhante ao que vivencio na ecocardiografia. Há subjetividade em muitos casos. Na dúvida, de que forma se comportam os diagnosticadores neste momento particular de modismo? E como se comportavam antes?
Pouco se falava do problema, portanto a sensibilidade dos médicos não estava voltada para isso. Hoje, a principal ideia que está na mente de um ultrassonografista (e da coitada da grávida) antes do exame é se há sinais de microcefalia.
No sistema público de saúde, provavelmente menos grávidas faziam ultrassom. Hoje vemos mutirões de ultrassom. E os médicos que fazem os exames estão muito mais atentos. Isso tudo indica que é muito plausível acreditar que no passado havia subnotificação.
Desta forma, há plausível subnotificação do passado e supernotificação do presente. Quantitativamente, parte do problema é criada por isso. Pelo menos parte do problema.
Reflexões Finais
Até o momento, tivemos acesso a apenas relatos de coexistência Zika-microcefalia publicados pela imprensa leiga, que desconsideram o lado silencioso das evidências. Ainda não dispomos de publicações em revistas científicas, aquelas que seguem um rigor na descrição dos métodos e resultados da pesquisa, passando pelo crivo da revisão por pares.
Tais artigos surgirão em revistas científicas. Como todo estudo, estes deverão passar pelo crivo da análise do nível de evidências. Mas, devemos estar atentos para a particularidade maior desta questão cientifica: a hipótese nula foi precipitadamente rejeitada, abrindo guarda aos vieses de confirmação e publicação.
Nassim Taleb aborda bem o problema dos especialistas em seu livro A Lógica do Cisne Negro. Especialistas de atividades que lidam com incerteza sofrem do problema da auto-ilusão. É por este motivo que comentaristas políticos erram muito mais do que modelos estatísticos de previsão de eleições. A arrogância epistêmica obstrui a habilidade preditiva de especialistas e suas ideias se tornam pegajosas. Depois de criadas, fica pouco provável de mudar. É o fenômeno de perseverança da crença, quando as ideias são tratadas como propriedades pessoais, da qual não queremos nos desfazer. É quando muitos convictos pesquisadores tendem a procurar confirmação de suas ideias a todo custo, vibrando quanto encontram resultados positivos, mesmo que à custa de P-value hacking, problema das múltiplas comparações ou vies de publicação.
Entre a ausência de evidencias sobre uma questão (estado atual) e a resposta definitiva, normalmente existe uma lacuna repleta de estudos pequenos, de qualidade mediana, cuja divulgação é regida pelo viés de publicação de evidências positivas. Isto estenderá o obscurantismo científico, até que em algum momento saberemos a verdade.
No mundo em que a hipótese nula foi violada, é indispensável que os diagnósticos Zika e microcefalia sejam feitos de forma cega e independente. Resultados definitivos virão de estudos prospectivamente desenhados, com hipóteses e desfechos primários definidos a priori.
Enquanto isso, grávidas devem evitar se expor a qualquer tipo de doença infecciosa e outros agentes sabidamente teratogênicos como sempre fizeram. Devem também evitar um demasiado envolvimento com recomendações caricaturais contra Zika. E devem estar cientes de que não há razão probabilística (risco absoluto) para que o pânico roube a tranquilidade de suas gestações.
Se Zika é responsável pelo crescimento dos casos de microcefalia, por enquanto não sabemos.
Mas a pergunta primordial desta postagem é outra: sabemos distinguir entre fato e ficção?
* Texto escrito por Luis Correia e Denise Matias, com colaboração intelectual dos obstetras Allan Silva e Leomar Lyrio.
Caro Luis Cláudio,
ResponderExcluirfico muito feliz com esse seu texto. Minha esposa está grávida e tenho pesquisado um pouco sobre esse assunto, mesmo sendo cardiologista. E minha conclusão (até o momento) é que há motivos pra cuidados, mas não pra pânico, como você também pontuou.
Um abraço.
Achei o assunto muito interessante, com isso a sociedade pode ter uma noção do que realmente vem acontecendo sobre esse problema que vem causando medo e pânico, principalmente as mulheres gestantes. Parabéns pelo texto..
ResponderExcluirNa minha visão, ainda precisamos evoluir muito nas escolas médicas quanto a importância e a necessidade de se dominar a epidemiologia clínica, e é por isso que o princípio da hipótese nula é violado constantemente, a ausência do seu conhecimento faz com que precipitadamente profissionais de saúde adotem a hipótese alternativa sem um olhar crítico e adequado às evidências. Outro aspecto que também contribui muito para isso, na minha análise, é o pensamento médico mecanicista. Mecanismos fisiológicos são colocados acima do teste de hipóteses simplesmente por soarem extremamente lógicos e ai - a hipótese nula e todos os critérios de causalidade de Hill são jogados por terra nesse mesmo instante.
ResponderExcluirMe chamou atenção o trecho referente a associação( os estudos que demonstram associação) e a causalidade - isso vêm bem a calhar, porque , muitos não sabem que associação não garante causalidade. Muitos não sabem que estudos descritivos, estudos observacionais não podem afirmar causalidade e muitos não sabem que relatos estão no nível mais baixo na escala de evidências.
Acho que infelizmente, visto os fatos de especialistas afirmarem com 100% de certeza que café e vinho protegem o coração, que vitamina c previne C câncer e que o vírus zika causa microcefalia que não sabemos reconhecer a incerteza, não sabemos diferenciar acaso de causa , fato ou ficção e que precisamos ler mais david sackett ou medronho...
Como eu venho falando, da mesma forma que lavar o meu carro não faz chover no dia seguinte - apesar disso sempre acontecer - não é necessariamente um surto de Zika Vírus o responsável pela explosão de casos de microcefalia no Nordeste Brasileiro.
ResponderExcluirSim, nossa mente entende o mundo através de explicações convincentes, e de fato faz muito sentido associar uma nova síndrome de má-formação congênita a uma nova doença infecciosa que apareceu no mesmo período.
O problema é que correlação não implica causalidade - o mundo é complexo demais para correlacionarmos uma coisa a outra com apenas uma variável - porque não incluir nessa conta sistemas imunológicos comprometidos por vacinas mal-formuladas, dioxinas no ar, metais pesados na água, agrotóxicos na comida...?
Por enquanto não há dado que suporte a associação do vírus transmitido pelo mosquito às crianças com má formação. As causas prováveis são inúmeras, e reduzir um problema tão grave a algo tão fora de controle é, de certa maneira, eximir os órgãos e autoridades competentes de sua responsabilidade.
Excelente artigo, obrigado!
Muito pertinente os comentários. Você citou Kant, e aqui incluo outro filosofo chapa-branca que é Descartes. Na ideia descartiana, nossos sentidos nos fazem errar, como a percepção do tamanho de um objeto, colocado em diferentes posições em relação a luz solar. Portanto, devemos sempre duvidar, e a dúvida será nosso guia de discernimento. E já que estamos aqui, trago uma provocação da filosofia materialista, principalmente em relação aos afetos. Nossa forma de entender o mundo e viver no mundo é dependente dos nossos afetos devido as nossas relações com o mundo e os corpos presentes nele. Nesse sentido, o afeto rei sempre presente em nós, o medo, exerce um papel determinante em uma série de decisões. Ás vezes ficamos tristes sem nem mesmo viver algo. Somente pela nossa imaginação. Isso seria o temor. Ás vezes ficamos alegres da mesma forma. E isso seria a esperança. Esperança e temor são, na ideia materialista, indissociáveis. Porque se eu tenho esperança é porque temo. E se temo é porque tenho esperança. E diria um filósofo materialista: ambos são espectros da ignorância, porque quando se sabe não há o que temer e não há o que esperar. Infelizmente, vemos deturpações do método científico e da sua finalidade. Na grande maioria, para provar concepções distorcidas de uma realidade distante, ou mesmo porque politicamente é mais agradável à sociedade vigente. Mais fácil e cômodo, e ignorante.
ResponderExcluirExcelente postagem...como tantas outras que já li neste blog...tomara que a questão Zika e Microcefalia sirva para que todos os profissionais envolvidos na saúde consigam interpretar corretamente as evidências científicas e a ficção fique somente na saga Star Wars!
ResponderExcluirExcelente postagem...como tantas outras que já li neste blog...tomara que a questão Zika e Microcefalia sirva para que todos os profissionais envolvidos na saúde consigam interpretar corretamente as evidências científicas e a ficção fique somente na saga Star Wars!
ResponderExcluirLuis, como sempre, escrevendo barbaramente. Mas eu sou um dos que rejeitaram a hipótese nula desde agosto deste ano quando comecei a atender inúmeros casos de microcefalia em hospitais públicos e no atendimento privado. Ao analisar os exames e a história clínica, não tem como ter dúvidas da associação da microcefalia ao Zika vírus. Vamos aos fatos (serão publicados em breve):
ResponderExcluir1) Microcefalia com lesões destrutivas e calcificações cerebrais - quase que patognomônicas de causa infecciosa;
2) 85% x 20% de história de doença exantemática na gestação (principalmente no 1o trimestre) quando comparadas às gestantes sem diagnóstico de microcefalia fetal ou outras lesões do SNC;
3) Concorrência temporal entre a epidemia por Zika e microcefalia 6 meses depois, com gráficos superponíveis;
4) Não há relatos de novas infecções ou de mutações de outros vírus que possam estar causando estas lesões, que, repito, são quase que patognomônicas de infecção;
O fato de ainda não termos dados científicos que comprovem a associação indica que apesar de todo nosso avanço como civilização, nós sabemos muito pouco ainda. E mais. tem um viés que ninguém comenta, que é o viés de pesquisar apenas o que é interessante para os países privilegiados. Devem ter inúmeras doenças desconhecidas na África, América Latina ou Ásia que ninguém estuda direito.
Quando fizemos nosso projeto de pesquisa para investigar a possível associação, em julho deste ano, ainda tínhamos a hipótese nula como alternativa. Hoje, não há como. Precisamos publicar o mais rápido possível estes dados para poder alertar outros países do problema. Há relatos na Colômbia e México em outubro e novembro de infecção por Zika Virus e agora em Cabo Verde. Estes países precisam conhecer esta associação o mais rápido possível para se prevenirem.
Excelente Manoel.
ExcluirTexto do Luis é brilhante como sempre, mas diante da evolução das evidências não dá mais pra ficar apaixonado pela hipótese nula.
Sempre é minha 1a hipótese pra tudo, cético até a raiz, mas nesse caso tá difícil acreditar nela.
Espero mesmo ver esses dados publicados logo! Como Luis falou, um estudo bem-delineado e bem-conduzido, sim, pode ajudar a refutar a hipotese nula. Mas sem dados publicados a maioria de nós ainda está no escuro.
ExcluirÉ uma grande oportunidade para que os (ótimos) pesquisadores (que o Brasil tem) produzam ciência (de qualidade) e com grande potencial de impacto (especialmente com a repercussão internacional do tópico nos meios profissionais e leigos). Espero que governo e academia (e o setor privado, com as inovações tecnológicas necessárias) conversem entre si e sejam capazes de articular as ações necessárias para responder essa questão.
Quando há má formação ou vidas em risco, o fenômeno da caixa preta (com mulheres grávidas entrando em um lado e bebes mal formados saindo do outro) as hipóteses nula e alternativa devem trabalhar com amplitudes grandes de erro, pois ninguém consegue fazer testes práticos em mulheres colocando zika, ou veneno para ver se bebês saem ou não com deformações, e paralelamente os testes circulares científicos vão afinando os testes conseguindo controles mais eficientes. Então é antiético (apesar de ser cientificamente possível), nesse tipo de experimento conseguir testes controlados.
ExcluirÉ lamentável, mas é possível que devido as muitas ações que se estão tomando, alguma variável (ou um conjunto delas) influenciar na microcefalia e não ser possível mais levantar hipóteses nem testa-las adequadamente. Apenas a torpe amostra de dados do que ocorreu e ficar com o velho achismo.
Nesse tipo de pesquisa (em que vidas humanas podem estar sendo apostadas), o método científico tem que se contentar com taxas de erros grandes para fazer pesquisa, e o cientista tem que se contentar com isso, portanto demorará bastante, cobaias humanas são arredias ( ;) ). Vide câncer e aids.
A microcefalia se encaixa na analise temporal? É óbvio que sim, e clamar a 'falácia da associação temporal', não significa de maneira alguma que associação temporal não exista... só para jogar um contra argumento que discutíamos em Estatística, pode ser que os exemplos de associação temporal que não dão certo sejam os cisnes brancos, assim diz-se que toda a associação temporal não dá certo :)
"Em estatística os cálculos sempre estão certos e precisos, até mesmo as taxas de erro e tolerâncias. O problema é saber o que esta sendo analisado, para que serve, a interpretação que o estatístico (pesquisador) dará e como utilizá na hipótese seguinte". Assim sendo... os pesquisadores especialistas estão fazendo corretamente o trabalho deles, pode ser que a mídia esteja atrapalhando sob um ponto de vista, mas de uma maneira cruel esteja ajudando aos pesquisadores a entender o que as mudanças de variáveis (o comportamento das pessoas sob os novos cuidados que estão sendo citados e o pânico) podem influenciar na microcefalia.
Ou seja, é praticamente pedir para que as mulheres grávidas entrem na caixa preta, mas não exatamente com essas palavras, apertar os botões variáveis (venenos, viroses, alimentação) e finalmente ver o que sai do outro lado da caixa preta.
parabens pelo texto: incômodo, desagradável, além de politicamente inconveniente.
ResponderExcluirEntretanto, jamais inoportuno.
ha! vamos combinar. combater com eficiencia o aedis é fundamental. detesto mosquitos
parabens pelo texto: incômodo, desagradável, além de politicamente inconveniente.
ResponderExcluirEntretanto, jamais inoportuno.
ha! vamos combinar. combater com eficiencia o aedis é fundamental. detesto mosquitos
parabens pelo texto: incômodo, desagradável, além de politicamente inconveniente.
ResponderExcluirEntretanto, jamais inoportuno.
ha! vamos combinar. combater com eficiencia o aedis é fundamental. detesto mosquitos
Excelente texto! Parabéns!
ResponderExcluirExcelente! Parabéns!
ResponderExcluirParabéns ao autor pelo excelente texto!!! Diferente de muitos comentários aqui feitos, não faço parte da comunidade médica (talvez ainda venha a fazê-lo nesta vida) e o que eu teria a dizer é que depois da dita "confirmação" da relação zika-microcefalia eu venho questionando aos meus amigos e vossos colegas de profissão o quanto isso seria realmente uma função direta: Teve Zika? Então o bebê está condenado a uma vida de privações (caso ele chegue a ter uma DNV)?
ResponderExcluirE se a mulher em tenra idade teve a manifestação da doença muito antes da fecundação, retendo em seu histórico o vírus Zika todos os seus possíveis filhos estariam condenados a tal sortilégio? Seria de bom grado então fazer uma campanha de esterilização dessas mulheres? O quanto é possível determinar que se a infecçao tenha ocorrido até o primeiro trimestre ou até o segundo essa relação seria direta? Quantos casos ocorreram nos Estados que registraram a doença de mães com Zika que tiveram filhos sem microcefalia mas com outras doenças congênitas? Essas doenças tb irão pra estatística da Zika? Quantas não infectadas com Zika tiveram filhos microcéfalos? Quantas infectadas tiveram bebês normocéfalos?
Ainda estamos acordando para as pesquisas dessa doença, que não é endêmica, quanto pudemos aprender com outros países que tb tem manifestações do vírus? Ao começarmos a engatinhar nos estudos talvez partes dessas questões e de inúmeras outras que eu tenho e aqui não foram elencadas, possam ser respondidas e tantas outras apareçam, pq o perguntar é o que motiva a procurar uma resposta na pesquisa séria. Como foi lembrado pelo autor, muitos outros motivos para microcefalia existem e o Zika no futuro pode vir a ser mais um que pode aumentar essa lista. Carece de fundamentos e de uma pesquisa séria longe dos olhos e da pressão dessa imprensa marrom e tendenciosa que temos aqui no nosso Brasil.
Bastante oportuno o texto.
ResponderExcluirBastante oportuno o texto.
ResponderExcluirNão achei justo deixar de comentar só por não concordar com suas opiniões. Leio pela primeira vez seu blog, então não posso falar de outros artigos além desse. Minha sincera opinião: escrever de forma rebuscada é uma arte para poucos e certamente você não está incluído neste grupo... Várias palavras usadas com menos frequência, citações aleatórias e numerosas metáforas não tornam seu texto melhor nem dão maior credibilidade. Isto se consegue com o conteúdo, e honestamente você fala inúmeras besteiras ao longo do texto. O pior é ler comentários de vários médicos elogiando seu texto . Não me admira a saúde no Brasil estar tão longe do aceitável. Profissionais com raciocínio como o seu são meu maior pesadelo. Trata-se da personificação da ignorância epistêmica. Você claramente não tem conhecimento estatístico ou mesmo de método científico. Enfim, quanta besteira escrito em um texto tão prepotente. Sinto saudades e quando lá baterias escritas apenas por pessoas humildes que pouco estudaram. Aguentar falácias de pseudo intelectuais já é demais.
ResponderExcluirPS: imagino que não publicará meu comentário para manter sua aparência de intelectual superior, mas sugiro pelo menos uma reflexão sobre o que escrevi . Afinal aqueles que só tem ouvidos à elogios poderiam muito bem ser surdos, certo?
Uma das grandes belezas da ciência é que não é sustentada com dogmas. Você e qualquer um tem todo direito à crítica, mas como estamos em um ambiente intelectual, menos dokos, e mais argumentos. Se não concordas com os pressupostos levantados rebata-os com fundamentação. Vi somente ofensas e nenhuma fundamentação racional da oposição.
ExcluirConcordo com a postagem do CLX. Não existe verdade absoluta e em um ambiente científico às críticas com base em argumentos são sempre bem-vindas, visto que a divergência de opiniões é fundamental para a evolução do conhecimento e novos paradigmas. Entretanto, no que refere-se a postagem do André, não visualizei nenhuma contra-argumentação sobre o que seria o pensamento correto do ponto de vista estatístico e o quais seriam os passos corretos do método científico. Isto me deixou bastante intrigado. Quanto a questão do vírus Zika e a tal da microcefalia, diferentemente dos que não concordaram com as afirmações aqui do blog, embora as ache bastante coesas, pois a todo momento preservam a hipótese nula e o teste de hipóteses, você em nenhum momento elencou seu ponto de vista, é claro com base em evidências e sem achismos.
ExcluirAndré, também tenho minhas discordâncias quanto a postagem, mas apenas com acusações e críticas, sem qualquer embasamento concreto, fica difícil aprofundarmos o debate e nos aproximarmos de um entendimento mais completo frente a uma situação complexa como essa. Também acho desnecessário ofensas e ataques ad hominen, só servem para nos distrair das verdadeiras questões.
ExcluirConfesso que fiquei curioso frente aos seus possíveis fundamentos e o incentivo a compartilhá-los com a gente.
MAV detected. Há algo de podre no reino. Isso está demonstrado no agressivo comentário do Andre. Aliás, neste reino não pode haver discordãncias pois os que discordam são logo desqualificados. Até que alguém, como o ilustre médico tenha a coragem de dizer a verdade, que o rei está nu.
ExcluirQue nível de comentário ė esse? Então, exponha suas refutações, vamos aos argumentos?
ExcluirAchei prudente a nota do ministerio da saude, pois eles utilizaram o termo associacao. O grande problema foi como a populacao interpretou esse discurso
ResponderExcluirO que me assusta bastante é o boato que vacinas vencidadas estariam provocando o fenomeno. Ate mesmo pesquisadores compartilham esse credo
Parabéns pela análise.
ResponderExcluirVejam só :http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/12/1724404-erros-de-medicao-inflam-numero-de-casos-suspeitos-de-microcefalia-em-pe.shtml
A matéria acima informa que diversas mães estão se deslocando do sertão de pernambuco para Recife com filhos recém nascidos em razão de suspeita de microcefalia. Informa que há um número expressivo de descartes do diagnóstico por dia ( sem maiores detalhes). Mesmo assim em razão do protocolo clínico epidemiológico todos são encaminhados para fazer coletas de sangue e tomografia do crânio. Imaginemos o custo disso em termos de sobrecarga para o sistema de saúde , gastos e sofrimento para essa gente.
Não é qualquer lugar que realiza os exames necessários para investigação de microcefalia. O ideal mesmo seria que as condições de saúde desta população fossem melhores. Isto é um problema muito mais amplo.
ExcluirValeu!!!
ResponderExcluirPostagem absolutamente espetacular.
ResponderExcluirMuito pertinente suas colocações!Parabéns pelo texto!!!
ResponderExcluirMuito pertinentes suas colocações! Parabéns pelo texto!!!
ResponderExcluirPrezado Luis, também adorei seu texto, praticamente um elixir para minha alma científica em tempos míopes. Quero acrescentar, à sua crítica, a hipótese de associações equivocadas de diagnóstico de anomalias genéticas que tem a microcefalia como sinal sindrômico independente do Zika vírus.
ResponderExcluirGostaria de entender o seguinte: primeiro veio o pessoal para a Copa e trouxe o Zika.. e em pouco tempo se espalhou pelo nordeste.. ok. Mas, quantas e quantas pessoas vão passear no nordeste, e deste modo, os casos de microcefalia deveriam estar no Brasil todo, não apenas no nordeste.. Será que é só eu que acho estranho essa falta de lógica da coisa?
ResponderExcluirNão. Pelo que eu saiba, microcefalia pode estar ligada a desnutrição, intoxicações, rubéola, toxoplasmose e outras.Não sou obstetra, nem pediatra,sou dermatologista.Eu recebi as orientações mais recentes do Ministério da Saúde.Moro em MG, onde não há circulação do zika-vírus, e o estado estava investigando muitos casos de microcefalia.
ExcluirNão. Pelo que eu saiba, microcefalia pode estar ligada a desnutrição, intoxicações, rubéola, toxoplasmose e outras.Não sou obstetra, nem pediatra,sou dermatologista.Eu recebi as orientações mais recentes do Ministério da Saúde.Moro em MG, onde não há circulação do zika-vírus, e o estado estava investigando muitos casos de microcefalia.
ExcluirNão. Pelo que eu saiba, a desnutrição, rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus, herpes, intoxicações e outras causas, podem ser causa de microcefalia. O MS orientou a realização de exames para investigação de outras infecções.
ExcluirDe um ano para cá, ou um pouco mais, nosso SOL está tendo mudanças significativas em seu funcionamento, liberando ventos solares com raios x.
ResponderExcluirPergunto: mutações genéticas não podem estar advindo daí?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGrandes explosões solares, com foco de prótons direcionado entre América do sul e África, foram detectadas nos últimos 18 meses.
ResponderExcluirIsto acarretou a exposição de material solar, na parte interna do sol, de forma a liberar raios x, de maneira intensa.
Poderia, estes raios x, terem desencadeado modificações genéticas nos fetos, a ponto de gerarem (correção) microcefalia?
Prezado Luis Cláudio, obrigado pelo seu excelente texto e por trazer a luz esta discussão sobre o uso (ou não) do método científico e os testes de hipóteses.
ResponderExcluirGostaria apenas exemplificar o porque a miopia estatística poderia ser utilizada como uma medida de risco zero assumido, principalmente médicos, que lidam com vidas humanas. Infelizmente, meu pai foi diagnosticado recentemente com câncer de próstata. Hoje ele tem 84 anos e o urologista dele nos reuniu comunicando que nenhum tratamento seria aplicado ao meu pai, pois é o que recomenda as pesquisas científicas. O risco de se iniciar um tratamento penoso e piorar a qualidade de vida dele é muito grande (ele nos mostrou números baseados em dados científicos). Com base no que é preconizado pela ciência, ele disse que é provável que meu pai viva bem e não venha falecer em virtude do câncer de próstata. Pois bem. Neste mesmo encontro ele, que é um médico excepcional, me comunicou e aos meus 6 irmãos homens, que, daqui para frente, anualmente é necessário que façamos todos os exames de próstata recomendados para controle do risco de desenvolvermos câncer de próstata nos próximos 20 anos. Pois ele nos apresentou, baseado no que é aceito cientificamente, a probablidade de eu e meus irmãos desenvolvermos o câncer. Se não estou equivocado, a probabilidade é 40%. Como eu conheço relativamente bem o conceito de probabilidade, que ela só se aplica a populações e não a indivíduos isolados, fiz a pergunta que provavelmente ele não queria ouvir. Eu disse, ok, pelos dados científicos a nossa probabilidade, enquanto fizermos parte de uma população de homens na faixa dos 45 aos 65 anos, é 40%. Mas, e eu ou um dos meus irmãos, teremos ou não câncer de próstata? Ele sorriu e, com uma consciência que eu não esperava dele, me disse: "vamos esperar uns 30 anos e, se estivermos ambos vivos, eu te respondo!"
Portanto, a questão da miopia científica sobre o risco de 0,095% de se desenvolver microcefalia devido ao zika passa, na minha opinião, por este aspecto absolutamente humano. Mesmo que o risco seja de apenas 0,095%, os pais podem questionar, "ok, o risco estatístico é baixo, mas e o meu filho, vai ou não nascer com microcefalia?" Esta resposta nenhum médico tem para fornecer, pois se disser não, não há risco, e o filho nascer com microcefalia, é desnecessário dizer que tipo de implicações um médico estaria sujeito.
Nos mais concordo ipsis litteris contigo. Esta pressa de o Ministério da Saúde associar a microcefalia ao Zika vírus é bastante suspeita, precisam ser investigadas razões pelas quais eles se apressaram.
Glayson, obrigado pelo excelente comentário.
ExcluirVirou uma salada.Mas não pode parar as tratativas baseado na associação do ZIKA sem antes aparecer outra causa mais concreta que a existente.Isto seria uma irresponsabilidade.
ResponderExcluirQuem vai querer arriscar? Todo mundo conhece alguém que teve dengue...o mosquito esta aí. Para o zika chegar na mesmo patamar da dengue e questão de tempo.......a pergunta do milhão é. ..qto tempo? Pouco, muito?....melhor prevenir. A chance de ter microcefalia e maior do que acertar na mega
ResponderExcluirPor quê não vimos um surto de microcefalia na africa ..... se o zika veio daquele continente? Por quê o zika teria chegado ao Brasil só agora, se o trânsito de pessoas entre Brasil e África é grande e acontece a décadas ?
ResponderExcluirSua primeira pergunta é difícil e é o que chama atenção dos pesquisadores.Somente eles irão responder. No período da Copa, aumentou o número de pessoas vindas da África. Pode ter sido trazido nesta época.Quanto maior o número de pessoas infectadas pelo vírus, maior chance dele passar a circular no meio e infectar outros. A maioria das infecções são subclínicas. Moro em MG, onde não há casos autóctones (que se infectaram aqui), mas há relatos de alguns casos que se infectaram ao viajar para o nordeste, que não foram notificados.Não acho que haja motivo para pânico, apenas para cuidados. A dengue aqui tem provocado muito mal estar e mortes.A guerra é contra o Aedes! Sem falar, que as Olimpíadas estão próximas...
ExcluirSou professora e demorei dez anos para decidir ser mãe novamente. Com 17 semanas de gestação tive zika. Uma semana depois não se falava em outra coisa na mídia. Piramos, meu.marido e eu, com a possibilidade de termos um filho com malformaçao( sem hipocrisia, ninguém quer) . Mas ai comecei a pesquisar sobre o desvio padrão utilizado, sobre a não obrigatoriedade anterior de notificação, e sobre o numero de casos descartados após serem identificados como suspeitos. Achei tudo tão sureal. Absurdamente sureal. Como o Ministério divulga certezas tão pouco apuradas? Como a mídia não questiona, apenas repete como papagaio, informações tão vazias? E por que , nenhum médico questiona isso tudo? Todos os que consultei se mostraram descrentes na associação feita. Concordo com tudo que foi escrito e acho que nunca saberemos o real motivo de tamanha trapalhada. A nos, mais uma vez, nos resta contar com a sorte de pensar e não nos deixarmos manipular. PS: Meu bebe esta bem e não apresenta nenhum sinal de microcefalia.minha prumeira filha nasceu com CC 32 cm. Hj teria sido notificada. Na época ninguém falou nada. Ela é mais que perfeita assim com essa outra tb será.
ExcluirProf Luis Claudio, leio seu artigo hoje como um leigo interessado repentinamente no assunto por minha esposa estar iniciando a gestação. Sou engenheiro de formação e um tanto familiarizado com metodologia científica. Seu texto é de incrível escrita e de excelente conteúdo informativo, praticamente imparcial. A única discordância que tenho é com relação ao método estatístico, onde foi preconizado o número de casos detectados até o momento dividido pelos recém nascidos totais. Acredito que o número teria que ser de microcefalia diagnisticada em recém nascidos dividido pelo total destes (já que os exames de gestação podem não ser aplicados em todas as mulheres). Teríamos que esperar os primeiros nascimentos para ter essa estatística, que pode estar distorcida e pode ser mais preocupante. Mas isso não muda em nada o brilhantismo do seu texto. Parabéns!
ResponderExcluirParabéns Frederico Salgado!!! Eu também parabenizo o prof Luís Cláudio, pelo excelente artigo. Concordo que não se fazem exames para todas as causas de infecções que podem causar microcefalia, em todas as gestantes.Eu também sou mais uma interessada nesta área, sou dermatologista e hansenóloga. Obrigada!
ExcluirTambém concordo que essa pressa por parte do Ministério da Saúde em fazer essa associação foi extremamente suspeita... Deixo uma pergunta de leigo, esse surto de Microcefalia pode ter relação com alguma Vacina?
ResponderExcluirTambém acho muito suspeita essa pressa em associar a Microcefalia ao Zika Vírus... Agora uma pergunta de leigo, existe a possibilidade de esse súbito aumento no
ResponderExcluirExiste a possibilidade de esse súbito aumento nos casos de Zika Vírus terem relação com alguma Vacina?
ResponderExcluirGostei!
ResponderExcluirTeve uma conversa envolvendo vacina mesmo, mas não ficou nada provado.
ResponderExcluirOi Luis,
ResponderExcluirTenho uma visão contrária a sua em relação a maneira como o Ministério da Saúde e muitos médicos estão abordando essa questão.
1. Não há dúvidas do aumento dos números de casos de microcefalia na região Nordeste.
2. O acometimento de um bebê por microcefalia é grave e incapacitante.
3. Existe uma possibilidade clara de associação entre o Zika virus e a microcefalia.
Desta forma, é bem razoável que medidas sejam tomadas para evitar que gestantes entrem em contato com o Zika virus. A população tem o direito de ser informada da possibilidade dessa associação.
Grande abraço
Octavio Barbosa Jr.
Octavio Barbosa Jr, concordo com você.Não é à toa que estão se vendendo repelentes como nunca! Nunca é demais prevenir.Eu entendi o artigo como uma mensagem de que há muito que ser estudado ainda.
ResponderExcluirA SBD recomenda a icaridina(Exposis) para gestantes, mas não se acha para comprar, além de ser caro. O UP to Date recomenda o DEET, que é bem mais barato.Os ginecologistas, em geral, recomendam qualquer um.
Luís Cláudio, na parte da miopia estatística, acho que você cometeu alguns deslizes. Não está correto dividir o total de casos pelo número de nascidos vivos no país todo. Você usou o denominador errado. Na realidade, os casos foram concentrados em Estados onde houve epidemia de Zika, o que tornou muito mais elevada a prevalência da microcefalia nesses locais. No Estado de Pernambuco, em 15/dez, havia 874 casos notificados contra 12 no ano anterior. Ainda que tenha havido supernotificação e casos venham a ser descartados, é um aumento absurdo (62x)! Foi tão grande que os neuropediatras perceberam que algo inusitado estava acontecendo antes mesmo de qualquer análise estatística. Você ignorou esses números na sua análise e isso pode ter enviesado seus resultados e conclusões.
ResponderExcluirÉ claro que a comprovação de causa e efeito ainda depende dos estudos de coorte. Mas não se pode aguardar todos os estudos para notificar uma emergência em saúde pública. Subestimar o significado desses números seria um erro mais grave.
Regina, cheguei a pensar isso enquanto estava fazendo esta estimativa. Porém julgo que o denominador correto é o do Brasil, pois o pânico generalizado está sendo levado ao país inteiro, sem distinção.
ExcluirA questão do aumento de vezes (62x) nos remonta ao debate sobre risco relativo versus risco absoluto (vide postagem antiga). Mais um aspecto que pode ser abordado didaticamente a partir deste interessante fenômeno cognitivo que estamos vivendo.
Mas ao dividir pelo número médio de recém nascidos você não estaria considerando que os 600 mil fetos tiveram a mãe infectada por Zika durante a gravidez?
ExcluirPara saber a probabilidade de incidência não seria os casos de microcefalia com mãe infectada por Zika dividido por todos os casos de recém nascidos com mãe infectada por Zika?
Mas no final acho que resume ao que a Regina falou, infelizmente "não se pode aguardar todos os estudos para notificar uma emergência em saúde pública."
PS: Aliás, ontem saiu um estudo no New England Journal associando as condições. Vamos aguardar os próximos.
O que impede que o zika atinja numeros semelhantes ao da dengue? O mosquito é o mesmo. Todos conhecem alguém que teve dengue. .....meu caro Luís, na prática a teoria é outra. ..É mais fácil ter zika do que ganhar na mega sena. Vai arriscar? Abc Fernando
ResponderExcluirArtigo divulgado no site da Nature em 28/1/2016 "Zika virus: Brazil's surge in small-headed babies questioned by report" vai de encontro com seu post.
ResponderExcluirhttp://www.nature.com/news/zika-virus-brazil-s-surge-in-small-headed-babies-questioned-by-report-1.19259
Cara, não vai.
Excluir"...Establishing whether there is a link between microcephaly and Zika is particularly important because..."
A mesma situação aconteceu há décadas com a condenação da gordura saturada. Não aprendemos nunca...
ResponderExcluirNa minha opinião a medida correta de associação seria assim: (a) Considerar o número de mães de bebés diagnosticados com microcefalia que "tiveram Zika", (b) Considerar o número de casos de Zika em uma população maior. Se a proporção de Zikas nas mães de microcefalia é significativamente maior que a proporção de Zikas na população maior, então há associação, o que ainda não significa causa. De todos modos mesmo a descoberta desses dois números está sujeita a armadilhas. Não sei se há um teste objetivo para detectar se alguém "teve Zika". Se não há, então deveria haver um questionário muito bem elaborado, para evitar respostas induzidas por parte das mães com filhos diagnosticados. Quanto à definição da "população maior" provavelmente o melhor conjunto seria o das grávidas no período na mesma região. Acho que, essencialmente, isto é o que o autor do post preconiza, tirando os aspectos mais técnicos.
ResponderExcluirGenial! Obrigada pelo belíssimo texto!
ResponderExcluirmaravilha de artigo
ResponderExcluirnão estava acreditando em muitos pontos
não estão sendo preenchidos os postulados de Pasteur
reprodução da doença
maravilha de artigo
ResponderExcluirnão estava acreditando em muitos pontos
não estão sendo preenchidos os postulados de Pasteur
reprodução da doença
Luís,
ResponderExcluirExcelente texto, como de costume.
Sou leitor assíduo do seu blog, sempre admirável.
No caso em questão, concordo em parte com a abordagem .
Não teremos o denominador tão cedo, sorologia para Zika é péssima , cruza com o outro Flavivirus endêmico no país.
Com as evidências que temos disponíveis agora, não só a de superposição temporal (enormemente sujeita ao acaso) mas também a evolução geográfica (casos de microcéfalia aumentando justamente nos estados onde o Zika vai chegando), sugerem muito que a hipótese da associação seja pertinente. A menos que outra coisa esteja andando junto com o Zika pelo país, o que me parece improvável.
Estou ciente de que as evidências atuais estão longe de ser o que necessitamos para estabelecer uma relação causal definitiva mas sabendo que em alguns casos a gestação não é uma urgência médica e pode esperar até que tenhamos mais conhecimento acumulado sobre o risco adicional atribuível ao Zika, orientar "se vc não tem pressa de engravidar , espera um pouco até a gente entender melhor o que está acontecendo" me parece razoável.
Já para as mulheres já gestando ou em
Urgência de gestar, meu discurso bate com o seu . Diante dos inúmeros riscos e causas de complicações obstétricas e fetais conhecidas, o possível risco adicional pelo Zika AINDA é uma preocupação secundaria e não merece tirar seu sono. Recentemente fiz diagnóstico de Zika (por Pcr) em uma gestante de 23 semanas, e a mensagem foi de tranquilizacao. Tenho tentado evitar o alarde, a histeria coletiva, mas a hipótese nula me parece cada vez mais distante. O tempo dirá. Grande abraço e parabéns pelo blog novamente.
Prezados:
ResponderExcluirInfelizmente o oposto também é verdadeiro.
A Medicina Baseada em Evidências (MBE), se trouxe contribuições indubitavelmente relevantes ao fazer médico (cuidar) é também utilizada de forma mecanicista e reducionista, como se pudesse responder a todas as situações problema que nos estão colocadas.
Observando uma "pseudociência" como a historia* vemos como as coisas são diferentes:
- os paradigmas da Causalidade de Koch, acientificos segundo a MBE, foram utilizados com sucesso por muito tempo, antes que Evans os reforçasse com princípios epidemiológicos em 1976 . No caso da Zika, três dos princípios de Koch já foram demonstrados.
- ações médicos efetivas foram tomadas com conhecimento empírico muito antes das demonstrações científicas. Exemplo: vacinação para varíola na China, há milênios antes das teorias de causalidade e da descoberta dos virus.
- a maioria das condições mórbidas conhecidas hoje não seriam estudadas, descritas ou tratadas se os princípios da MBE fossem critérios para alocação de recursos. A descrição de casos, o nexo lógico e fisiológico determinam o que deve ser objeto de estudo com base na MBE e não ao contrário. Alguns exemplos mais próximos- a descrição completa da Doença causada pelo Trypanossoma cruzi por Carlos Chagas em suas várias formas e mecanismos de transmissão, feita com base nas observações de casos. Na década de 70, quatro casos de imunodeficiência entre homossexuais lançou o sinal de alerta do CDC para a busca científica que resultou na descrição do agente causal, suas formas de transmissão, prevenção e tratamento do HIV.
Se há uma coisa que Popper como epistemologista e filósofo nos aponta com maior ênfase, é a fragilidade do método científico na capacidade de intervir e modificar o mundo. Não se trata de abandonar o método, mas entendê-lo como limitado para tomada de decisões no mundo, o qual é muito complexo para admitir proposições unifacetadas de análise. Para a sobrevivência da espécie, paradoxalmente, não temos certezas científicas de que o método científico é mais efetivo do que a lógica e o empirismo...
*pseudociência, na visão de Thomas Kuhn: sem paradigma dominante
Pa-ra-béns Dr. ! �� �� ��
ResponderExcluirExcelente reflexão e texto!
O texto é brilhantemente claro e problematiza conceitos fundamentais para a epidemiologia e epistemologia científica. Além de tudo, é uma provocação essencial para a atualização e capacitação profissional em qualquer campo de conhecimento. Os dados apresentados, principalmente no que se trata de outras possíveis infecções para gestantes, demonstra a preocupação do Luis e da Denise com prioridades obstetrícias. Meus parabéns!
ResponderExcluirPorém, iria ser interessante considerar o vetor do vírus no texto para prevenção da saúde pública. Enquanto encontramos apenas coexistência, segundo os autores, do vírus Zika e microencefalia; o vetor Aedes aegypti nos traz um leque de doenças como dengue e febre amarela. Dessa maneira, o combate a esse vetor, independente de persistência da hipótese nula no que se trata de Zika e microencefalia, é sim uma prioridade à saúde pública.
A supernotificação do presente, o medo de engravidar (infelizmente parcialmente oriundo de orientação profissional) e a divulgação de dados pseudocientíficos, em um paradigma curioso, contribuíram para a educação ambiental, combate à água parada e elaboração de novas leis punitivas aos que mantêm condições de proliferação do real problema, não apenas do Zika: o Aedes aegypti.
Obrigado pelo texto e pela reflexão!
Dr Luís Cláudio, o que o sr acha do texto abaixo?
ResponderExcluirhttps://panoramalivre.wordpress.com/2016/02/11/componente-quimico-pyriproxyfen-e-apontado-como-causa-da-microcefalia/
Luis, o que você diz em relação à carta dos GTs da ABRASCO? Você chegou a ler? Relaciona, quase que certamente, a microcefalia com o uso dos inseticidas, etc...Vale uma análise sobre isso também, mas veja os termos utilizados no texto, feito por pesquisadores....o horror, o horror.
ResponderExcluirExcelente texto! Parabéns!
ResponderExcluirTenho criticas pontuais, mas vou enaltecer: a relação do consumo de chocolate e as literaturas foi muito legal! P/bens a todos(as)!
ResponderExcluirCaro Luís Cláudio,
ResponderExcluirQue bom encontrar um texto que aborda com tanta sensatez a questão Zika-microcefalia.
Já escrevi algo semelhante antes de encontrar o seu texto. Caso tenha interesse, está em http://www.jr.blog.br/
José Roberto
Excelente postagem, José Roberto. Provocada numérica bastante lógica. Me envie seu email para estatisticamed@gmail.com. Obrigado.
ExcluirBoa noite,
ResponderExcluirPara mim esse assunto é simples, porém totalmente embaraçoso para o governo e o mistério da saúde; pois a lógica é que há um agente neurotóxico potentíssimo por trás de tudo isso, e não há relatos de que algum inseto cause doenças cromossômicas. Esse tipo de alteração se dá pela exposição à algum agem químico teratogênico; A contaminação da água com agentes larvicidas e herbicidas foi o episódio pontual e regional que explica o fato ocorrido. Tem sido a evidencia mais plausível, pois explicaria a alteração mutagênica do aedes em zika e chikungunya, e as alterações neurológicas fetais, assim como o agente laranja no Vietnã.
▪ Fiocruz: Estudo confirma relação entre a infecção pelo vírus da Zika e microcefalia.
ResponderExcluirA pesquisa mostra que recém-nascidos infectados pelo vírus da zika apresentam risco 55 vezes maior de desenvolver microcefalia do que os não infectados.
O estudo, divulgado na revista The Lancet Infectious Diseas, incluiu 32 recém-nascidos com microcefalia (casos) e comparou suas características com 62 bebês sem microcefalia (controle), todos nascidos entre janeiro e maio de 2016, em oito maternidades do Recife. O objetivo é investigar a associação entre a microcefalia e o vírus zika, além de outros potenciais fatores de risco. Das 32 crianças com microcefalia, 40% (13 casos) tiveram infecção por zika comprovada laboratorialmente (soro e/ou líquido cefalorraquidiano).
http://rededengue.fiocruz.br/noticias/519-primeiro-estudo-de-caso-controle-confirma-relacao-entre-a-infeccao-pelo-virus-zika-e-microcefalia-2
Gostei da abordagem científica do zika vírus. Apesar de um pouco defasados pelo tempo, muitos dos dados apresentados servem ainda como referência pra determinados momentos. Acabei vindo parar aqui buscando informação pra atualizar minha página sobre o zika. Seu post não está atualizado, mas me deu umas boas direções pra seguir epsquisando.
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