Canais de Luis Correia

domingo, 24 de janeiro de 2010

Benefício Coletivo vs. Individual (Dieta Hipossódica)


No último número do NEJM foi publicado o estudo Projected Effect of Dietary Salt Reductions on Future Cardiovascular Disease, o qual utiliza premissas de estudos epidemiológicos para estimar por meio de modelos matemáticos o impacto da redução de sal na dieta. O estudo conclui que “modesta redução de sal na dieta (-3 g/dia) promove redução substancial de eventos cardiovasculares”.


Este é um bom exemplo de uma redução substancial do ponto de vista populacional, porém de efeito mínimo do ponto de vista individual. Observem que esta redução de sal promove uma redução na pressão sistólica de apenas 3.6 mmHg. Este pequeno efeito na pressão promove uma redução absoluta de infarto ou AVC de 0.06%. Ao calcular o número necessário a tratar (NNT = 100/0.06) percebemos que precisamos reduzir sal na dieta de 1.666 pessoas para prevenir um infarto ou AVC. Um valor de referência do NNT para considerarmos uma terapia de impacto relevante para saúde é 50. Ou seja, a magnitude individual do benefício da redução de sal é quase desprezível. Por outro lado, se todo americano adotasse esta terapia, o impacto populacional seria grande, com redução de 86.000 infartos ou AVC anualmente. Bastante razoável, o que economizaria $ 10 bilhões por ano. Já daria uma boa ajuda ao Haiti.


É a mesma coisa do benefício de certas vacinas. A probabilidade de uma pessoa na população geral adquirir e morrer de gripe suína é mínima. Por isso a magnitude do benefício individual é pequena, mas vacinando toda uma população o benefício coletivo é grande.


Mas do ponto de vista prático, qual a importância da diferenciação do benefício individual vs. coletivo? Como bem apontado por Barral no Blog do LIMI, dieta hipossódica é uma medida preventiva de difícil execução, pois “grande parte do sal da dieta não é adicionado na cozinha e sim já está contido na comida. Alguns alimentos, como carne e peixe, já contém naturalmente sal, em outros o sal é adicionado durante o preparo industrial. A comida contém, sem adição extra, cerca de 10% do sal da nossa dieta, outros 15% são adicionados na cozinha e cerca de 75% o são pela indústria de alimentos.”

Por este motivo, muito mais do que uma recomendação individual, isto tem que ser uma medida de saúde pública. Não é necessariamente uma mudança de hábito pessoal, mas sim um reconhecimento coletivo do problema. Por exemplo, o governo deveria subsidiar alimentos pobres em sal e cobrar mais imposto dos alimentos mais salgados. Assim inibiria a disponibilização de tantos alimentos industrializados com alto teor de sal. Isso é só um exemplo de muitas medidas que poderiam ser criadas.

Só funciona como medida de saúde pública. E medida de saúde pública não é ficar dizendo no Fantástico que sal faz mal à saúde, é implementar políticas efetivas.

Um comentário:

  1. Creio ser necessário um movimento da área da saúde junto ao parlamento para aprovação de medidas de controle (não só para o sal) na indústria de alimentos. É preciso fazer valer a responsabilidade social das empresas.

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