Canais de Luis Correia

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Exercício e Qualidade de Vida


O último número do Archives of Internal Medicine foi dedicado a evidências sobre dieta e atividade física. Dois ensaios clínicos randomizados demonstraram benefícios do exercício na qualidade de vida de idosos.

Pode parecer estranho falar isso, mas na verdade não temos certeza científica (ensaios clínicos randomizados avaliando desfechos clínicos) de que atividade física reduz incidência de eventos cardiovasculares e morte em indivíduos da população geral. Estes benefícios são observados em estudos observacionais, que são mais sujeitos a efeitos de confusão, nem sempre plenamente ajustados por análises multivariadas. Gostaria de ver um grande estudo randomizado de longo prazo mostrando esses benefícios, que acredito existirem.

Por outro lado, estes dois ensaios clínicos randomizados comprovam o benefício do exercício em qualidade de vida, tanto em aspectos físicos, como mentais. O ensaio clínico Resistance Training and Executive Functions mostra que musculação durante 12 semanas em mulheres acima de 65 anos melhora não só função muscular, como também função cognitiva. Em outro ensaio clínico dos Archives, idosos de asilo foram randomizados para exercícios leves, mostrando melhora da capacidade de exercer as funções básicas de vida.

Desfecho relevante não é só morte ou o que pode levar a morte (IAM, AVC). Qualidade de vida também é desfecho relevante.

4 comentários:

  1. Eu vou esperar a evidência bem sólida, antes de tomar qualquer atitude precipitada neste tema.
    Em outros aspectos (efeito do vinho, por exemplo) sou mais complacente.

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  2. Se a medicina é “o estado da arte”, a geriatria é a mais “artística” das especialidades uma vez que não existem grandes estudos nessa especialidade. (Nada que chegue perto dos big trials vistos em cardiologia, por exemplo...). Acredito que isso ocorra por dois problemas: (1) a população idosa é um grupo com os fatores de riscos inerentes da idade, trazendo consigo mais refinamento no trato e no segmento desses pacientes. (Problema comentado em postagens anteriores). (2) Quem banca a maioria dos grandes estudos são as industrias farmacêuticas (basta olhar as cifras gastas para “gerar” as evidência de benefícios de novos medicamentos). Não que elas queiram os idosos doentes. Não é isso! Elas querem os velhinhos saudáveis, mas só se estiverem usando seus remédios...
    Uma dúvida: como temos uma população especialmente sensível, onde os pesquisadores devem ter o maior controle possível das variáveis acompanhadas com análises multivariadas bem feitas, o seguimento é por um período relativamente longo e onde há muitas possíveis variáveis de confusão, o “Show De Truman” (no sentido de controle de variáveis) de Framingham não tem nenhum braço contemplando esses aspectos?

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  3. Não tenho autorização científica para discordar de Dr. Barral. Sou entusiasta de exercício físico, mas reconheço isso como uma questão pessoal, não embasada em evidências sob o ponto de vista de eventos "sólidos". O importante mesmo é controlar os fatores de risco.
    Quanto à questão do Framingham, os preditores de risco clássicos já têm sua validação de causalidade: ensaios clínicos mostram que o controle destes fatores (estatinas,antihipertensivos) reduzem a incidência de eventos cardiovasculares.
    Esta evidência ainda não temos com exercício.
    Só não dá para controlar o principal fator de risco: o envelhecimento.

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  4. Sou pesquisador assistente do Centro Cochrane do Brasil e estudante do Programa de Pós-Graduação em Medicina Interna e Terapêutica (UNIFESP) na área de concentração de Saúde Baseada em Evidência e, confesso que fique chocado ao ler que ensaios clínicos randomizados (ECR) avaliando desfechos clínicos não existiam, bem como que as evidências eram baseadas apenas em estudos de observacionais!!!
    Como eu me considero um entusiasta da Medicina Baseada em Evidências e, consequentemente eu preciso de evidências (rss...), desenvolvi uma estratégia de busca (chamada de "estratégia de busca insana" por alguns, rss...) para o PubMed, buscando ECR através de um filtro estreito para estudos clínicos de terapêutica, conduzidos em longo prazo.
    Para a data de hoje (13/07/12), a estratégia de busca retornou 624 artigos na área de atividade física. Gostaria de destacar dois desses estudos publicados pela "the China Da Qing Diabetes Prevention Outcome Study" na The Lancet [Lancet. 200824;371(9626):1783-9] e Diabetologia [Diabetologia. 2011;54(2):300-7]. Estes são ECR com "follow-up" de 20 anos. Eu não li esses artigos na integra, mas tenho a impressão de que o significado clínico, além do significado estatístico, pode ser importante na interpretação dos resultados (à luz das considerações metodológicas).
    Além disso, uma leitura dos artigos identificados com a estratégia de busca pode ser interessante. Para ver esse artigos basta ir para o link "http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed" e colar a estratégia de busca disponibilizada através do link "http://goo.gl/hIhWF" (não colei aqui pois há o limite de 4 mil caracteres).

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