Canais de Luis Correia

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Implante Desnecessário de Stents Coronários



Em Baltimore, o laboratório de cardiologia intervencionista com maior número de procedimentos não é o da Universidade de Johns Hopkins, nem o da Universidade de Maryland. O laboratório mais movimentado está em um hospital privado, o St. Joseph Medical Center. Este hospital realiza 6.5oo procedimentos coronários percutâneos por ano e detém o número de 100.000 stents coronários implantados desde 1980.


Uma reportagem de 15 de janeiro no Baltimore Sun traz a notícia de que este hospital sofreu uma auditoria federal, a qual detectou que 369 pacientes nos últimos dois anos realizaram angioplastia com implante de stent de forma desnecessária. O St. Joseph Medical Center reconheceu o resultado da investigação e enviou cartas informando a estes pacientes que eles receberam tratamento desnecessário.


Isto não é uma particularidade deste hospital. Nos últimos anos, dois outros médicos intervencionistas foram processados nos Estados Unidos por implantes de stents desnecessários. Muitos seguem a mentalidade do médico ativo, definida como a noção de que médico bom é aquele que indica procedimentos, cirurgia, tratamentos complexos, drogas novas. Os médicos se sentem mais seguros em indicar procedimentos (mesmo que desnecessários) do que assumir a responsabilidade de que um procedimento não é necesssário. Este é um exemplo de que também podemos ser responsabilizados pelo que fazemos, não só pelo que deixamos de fazer.


Este tipo de fenônemo é facilitado pelo distanciamente de decisões médicas baseadas em evidências. Decisões baseadas puramente em intuição ou experiência pessoal facilitam a adoção de tratamentos que trazem benefícios comerciais, porém são desprovidas de benefício clínico.


O cardiologista intervencionista responsável pelo laboratório, Mark G. Midei, está afastado de suas atividades. Que sirva de exemplo.

Um comentário:

  1. Excelente Luis; estamos gradativamente quebando o paradigma, à luz de trabalhos randomizados recentes, sobre a necessidade de intervenção percutânea sempre que encontrávamos lesões estáveis > 70%.
    Poderiamos lembrar que no passado indicavamos RM com ponte de safena para lesões únicas.
    Neudson Gomes

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