quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Check-list para Análise Crítica de Artigo sobre Conduta Terapêutica



Em duas de nossas principais postagens, há aproximadamente dois anos,  descrevemos textualmente como analisar a veracidade e relevância de evidências sobre condutas terapêuticas. Nesta postagem, organizamos os detalhes metodológicos sob a forma de check-list, sistematizando a análise crítica deste tipo de evidência. Estes check-list servirá de guia para nossas análises e postagens futuras.


Análise de Veracidade

I. Erros Sistemáticos (vieses)

Quanto à Intervenção

1. Efeito de confusão: há diferenças entre os grupos que possam simular ou anular o benefício da intervenção? Ensaio clínico randomizado?
2. Aplicação da intervenção: o tratamento foi corretamente aplicado aos indivíduos do grupo intervenção?
3. Aplicação do controle: o grupo controle recebeu tratamento que possa atenuar o contraste com o grupo intervenção?
4. Intenção de tratar: os pacientes forma analisados de acordo com sua randomização inicial?
5. Viés de desempenho: caso o estudo seja aberto, pode ter havido melhor qualidade de assistência aos pacientes do grupo intervenção que gere um falso benefício do tratamento? Ou melhor de qualidade compensatória aos pacientes do grupo controle que atenue o efeito da intervenção?

Quanto ao Desfecho (viés de aferição do desfecho)

6. Subjetividade: o desfecho é subjetivo o suficiente para provocar erros de aferição?
7. Efeito placebo: em um estudo aberto, o desfecho em questão é vulnerável ao efeito placebo?
8. Desfecho criado pelo médico: em um estudo aberto, o desfecho se constitui em uma conduta médica, que possa ser influenciada pela caráter aberto do estudo (por exemplo, indicação de cirurgia por suposta falência do tratamento clínico).
9. Seguimento: houve perda significativa de seguimento dos pacientes (> 10%).

II. Erros Aleatórios (acaso)

Em estudo positivo (P < 0.05), condições de baixa confiabilidade do valor de P:

1. Conclusão baseada em desfecho secundário? (problema das múltiplas comparações)
2. Conclusão positiva baseada em análise de subgrupo de estudo negativo?
3. Estudo truncado?
4. Estudo com baixo poder estatístico?

Em estudo negativo (P > 0.05), avaliar:

5. O estudo tem poder estatístico satisfatório para testar benefício clinicamente relevante?



Análise de Relevância

I. Análise Qualitativa

1. O desfecho é substituto ou clínico? O primeiro apenas gera hipótese; o segundo modifica conduta.
2. Em sendo desfecho clínico, qual a importância do desfecho na vida do indivíduos (hard vs. soft).
3. Caso o desfecho clínico seja composto, o resultado resulta do efeito em cada componente do desfecho ou apenas nos menos importantes?

II. Análise Quantitativa

1. Cuidado com redução relativa de risco, pode causar ilusão de grande benefício.
2. Prefira redução absoluta do risco (risco grupo 1 – risco grupo 2).
3. Calcule o NNT para avaliar  a magnitude do benefício da terapia.
-       NNT = 100/redução absoluta de risco
-       NNT < 50 é considerado satisfatório.

3 comentários:

  1. Professor, muito útil pra quem está dando os primeiros passos na medicina baseada em evidências! Só fiquei com uma dúvida: o efeito placebo não seria observado em estudos fechados?

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  2. Italvar, se o estudo é cego, o efeito placebo (se houver) será o mesmo no grupo droga e no grupo controle, pois o paciente não sabe se está usando droga ou usando placebo.

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  3. Excelente post! "Não é ao acaso" que este é um dos mais lidos de todos os tempos. Reflete o alto nível acadêmico de todo o blog. Parabéns!

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