quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dronedarona: serve para alguma coisa?

Há muitos anos os cardiologistas esperam o surgimento de um antiarrítmico tão eficaz quanto a amiodarona, porém sem os mesmos efeitos colaterais. Durante algum tempo esta foi a expectativa criada a respeito da dronedarona, o mais novo lançamento da Sanofi-Aventis. Porém as evidências mostram que a realidade não corresponde às expectativas.

A dronedarona tem propriedades eletrofisiológicas similares à amiodarona, porém não tem iodo em sua molécula, o que reduz sua toxicidade contra a tireóide e o pulmão. No entanto, precisamos ver o que estas vantagens teóricas promovem na prática. Primeiro problema, esta “promissora” droga é menos eficaz do que a amiodarona no que diz respeito à sua principal indicação: controle do ritmo cardíaco em pacientes com fibrilação atrial não-permanente. O ensaio clínico randomizado DYONYSUS demonstrou recorrência de fibrilação atrial em 63% dos pacientes que usaram dronedarona versus 42% do grupo amiodarona. Ou seja, dronedarona não é bem uma amiodarona melhorada. Segundo, do ponto de vista de tolerância, este estudo demonstrou 13.3% de descontinuidade da amiodarona versus 10.4% de descontinuidade da dronedarona. Um ganho de tolerabilidade muito menor do que a perda de eficácia. Terceiro, dronedarona não é exatamente mais segura do que a amiodarona. O ensaio clínico ANDROMEDA foi interrompido precocemente por aumento de mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca.

Então, para que tolerar um pouco mais uma droga que é menos eficaz, e que deve ser restrita a pacientes de baixo risco, ou seja, sem insuficiência cardíaca?

Normalmente, as drogas boas são mais efetivas em pacientes de alto risco. Ou seja, o benefício absoluto é maior em pacientes que tem maior risco absoluto. Aqui é o contrário. A droga é contra-indicada em pacientes de alto risco, devendo ser restrita a pacientes de baixo risco, porém com menos eficácia do que a droga tradicional. Tudo isso para desfrutar um pouco mais de tolerabilidade? Não faz muito sentido como droga de primeira linha.

Sendo assim, esta é uma droga de segunda linha, tal como o FDA liberou. O risco pode vir do entusiasmo pelo novo. Ou seja, decorrente de marketing exagerado, a comunidade pode se entusiasmar com as falsas promessas, passando a preferir esta nova opção. Por exemplo, no site do The Heart tem um “simpósio” patrocinado pela Sanofi-Aventis no qual todos os participantes têm vínculo com este fabricante e um deles afirma:

We would be willing to conclude that we didn’t see anything that would make us really worried about making a switch [from amidarone to dronedarone] in a relatively short period of time.
Parece um tanto tendencioso, não?

3 comentários:

  1. Luis,

    Sensacionais todos os últimos posts. A publicação sobre as estatinas da TIME sem duvida causará milhares de falências a aderência terapêutica, e por isso a MBE é tão importante, pois através dela, nós temos um recurso incontestável pra convencer os nossos pacientes: o conhecimento científico consolidado. Abraço

    Pedro Panizza - 7° (EBMSP)

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  2. Muito bom seu post Luis. Realmente tenho ouvido falar dessa droga como se ela fosse a salvação, uma grande inovação. É preciso conter o entusiasmo!

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  3. Luis.

    Acho que entusiasmos e pessimismos devem ser contidos. Creio que só a experiência clínica com a droga trará respostas para todas as dúvidas. Se superar as expectativas, ótimo. Caso contrário, não será amplamente utilizada...

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