Em economia, a mediada ponderada mais utilizada é a de custo-benefício, em que o custo e o benefício são colocados na mesma unidade, para que comparação fique intuitiva e clara. Por exemplo, uma medida de saúde pública para redução de acidentes de trânsito (construção de melhores estradas) pode quantificar as vidas salvas em unidade monetária, visto que as diferentes sociedades definem o “valor estatístico de uma vida” para fins de tomada de decisão. Desta forma, se compara o ganho de vida em dólares versus o gasto com estrada em dólar. Isso torna intuitivo o processo de decisão. Outra alternativa é transformar o custo das estradas em números de vidas salvas, ficando os dois lados da equação mensurados pelo benefício líquido.
No entanto, no campo da saúde, os estudos de economia costumam priorizar as medidas de custo-efetividade, onde o custo é monetário e a efetividade é clínica. A mais utilizada é a razão de custo-efetividade incremental, expressa em dólares por cada ano de vida salva, ajustado para qualidade. Embora o entendimento desta medida tenha se difundido, a utilização desta torna o processo de decisão enviesado.
Primeiro, esta medida conota vidas perdidas devido a economia monetária, o que torna irracionalizável o processo de decisão. Segundo, esta medida diz respeito apenas à doença em questão, perdendo a perspectiva de custo-oportunidade do sistema de saúde. Estes dois problemas não ocorreriam caso fosse utilizada uma medida de custo-benefício.
A medida ideal seria a de “net health benefit”, na qual o curso é transformado em vidas. Sabendo-se a definição do limite custo-efetividade de um país, podemos transformar custo da terapia em vidas.
Por exemplo, consideremos que a definição do limite de custo-efetividade no Brasil é R$ 50.000 por ano de vida salva. Caso a terapia custe 1 milhão por vida salva, essa vida foi salva a um custo de 20 outras vidas (1 milhão / 50.000). Este cálculo se aplica a sistemas públicos universais onde o orçamento em saúde é fixo. Portanto, o gasto no orçamento para salvar essa vida custa ao sistema 20 outras vidas, caso esse mesmo valor fosse aplicado a um outro tratamento (de outra doença) definido como custo-efetivo.
Assim, a medida de “net health benefit” deixa explícito a noção de custo-oportunidade, e eventualmente uma negação do tratamento traz a percepção de ganho para a sociedade, ao invés da percepção de perda para um paciente. Em paralelo, uma aprovação acima do limite de custo-efevidade deverá vir acompanhada de uma justificativa do porquê que nesta circunstância tratamento essa vida salva de forma assimétrica em relação a outra. Por vezes, existe esta justificativa.
Devemos enfatizar que não se trata de encontrar formas mais confortáveis de negar tratamentos aos pacientes, mas sim evitar a “aversão à perda” que domina os processos de decisão baseados da razão de custo-efetividade incremental, e imputar o pensamento de custo-oportunidade ao norte da decisão.
Conclusão
Diante da percepção de que há grande benefício, porém alto custo, o pensamento econômico-monetário deve ser baseado em custo-benefício e custo-oportunidade, ao invés de uma medida que confronta dinheiro e vidas.
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