Em resposta à postagem sobre screening para câncer de mama, recebemos um interessante comentário de Dr. José Carlos Lima: “Também precisamos conversar sobre a biopsia de próstata, pois 76% delas são brancas. Muitas vezes se biopsia próstatas infectadas. Você pode imaginar a conseqüência?” Faz sentido.
No ano passado, foi publicado no New England Journal of Medicine um grande ensaio clínico, envolvendo 76.693 homens entre 50 e 75 anos, randomizados para screening anual (toque retal + PSA) ou controle (N Engl J Med 2009;360:1310-9). No grupo controle a realização do screening não era obrigatória, ficava a critério do indivíduo. Após 10 anos de seguimento, não houve redução de mortalidade relacionada ao câncer de próstata com o screening rotineiro. Vale salientar que 40% dos voluntários no grupo controle fizeram algum tipo de screening por conta própria, o que pode ter diluído o benefício da terapia. Este potencial viés é inerente ao tipo de estudo, pois seria antiético proibir que os indivíduos fizessem exames. Por outro lado, isto não invalida os resultados, pois a proporção de pessoas submetidas ao screening foi bem diferente entre os dois grupos.
Em 2008, em artigo publicado no Annals of Internal Medicine, o U.S. Preventive Services Task Force afirmou que não havia evidências suficientes para recomendar o screening: “For men younger than age 75 years, evidence is inadequate to determine whether screening improves health outcomes. Therefore, the balance of harms and benefitscannot be determined.”
E ainda lembrou: “The harms of screening include the discomfort of prostate biopsy and the psychological harm of false-positive test results. Harms of treatment include erectile dysfunction, urinary incontinence, bowel dysfunction, and death. A proportion of those treated, and possibly harmed, would never have developed cancer symptoms during their lifetime.”
Naquela época, o Task Force lembrou que o ensaio clínico acima citado estava em andamento e brevemente poderia contribuir para esclarecer a questão. Pois bem, agora que este trabalho está publicado, sabemos que este representa uma evidência contrária ao screening da forma como foi proposto.
Em 2009, Esserman et al publicaram uma interessante revisão no JAMA, onde afirmam:
“Screening may be increasing the burden of low-risk cancers without significantly reducing the burden of more aggressively growing cancers and therefore not resulting in the anticipated reduction in cancer mortality. To reduce morbidity and mortality from prostate cancer and breast cancer, new approaches for screening, early detection, and prevention for both diseases should be considered.”
Dá para perceber que o benefício da pesquisa rotineira para câncer de próstata não é tão óbvio como se pensa.