quarta-feira, 21 de abril de 2010

Amamentação traz Benefício Clínico?


Um dos mais fortes paradigmas na área de saúde é aquele que propaga o benefício da amamentação. Mas qual o nível de evidência a respeito desta conduta? Esta resposta está em uma meta-análise publicada no site do Ministério da Saúde Americano, que apresenta a seguinte conclusão:
A history of breastfeeding is associated with a reduced risk of many diseases in infants and mothers from developed countries. Because almost all the data in this review were gathered from observational studies, one should not infer causality based on these findings. Also, there is a wide range of quality of the body of evidence across different health outcomes.
Portanto, percebe-se que praticamente não há ensaios clínicos randomizados para responder a questão. Em segundo lugar, o documento chama a atenção para a pobre qualidade metodológica de boa parte dos trabalhos.

Mas o que mostram os resultados? Há de fato uma associação entre amamentação e menor incidência de problemas comuns, tais como asma, gastroenterite, obesidade, sem redução de mortalidade. Falamos em associação, pois não se pode garantir causalidade, visto que os estudos são observacionais. Infelizmente, a meta-análise não nos traz dados de risco absoluto, portanto fica faltando informação a respeito da magnitude do benefício.

Na prática vemos dois tipos de situação: de um lado, mães que têm tempo e prazer em amamentar. Estas devem amamentar, pois o processo vai ser gratificante e possivelmente é benéfico. Além disso, garante o alimento sem custo para pessoas de baixo nível sócio-econômico.

Do outro lado, há mães sem tempo e/ou com dificuldade de se adaptar à prática da amamentação. Estas se tornam ansiosas, sentem-se culpadas, principalmente quando começam a trabalhar e deixam seus filhos sem a amamentação "necessária". Muitas vezes tentam tirar leite para deixar em casa ou voltam correndo para casa várias vezes ao dia. Sem falar naquelas que sofrem com processos inflamatórios nos mamilos, mas não desistem do ato. Ou desistem e se sentem culpadas pelo resto da vida.

Para estes casos, seria necessário um bom nível de evidência que servisse de base para a tomada de decisão: amamentar ou não amamentar sem drama de consciência. Ou seja, em primeiro lugar precisamos saber se há de fato benefício. Estes estudos observacionais são carregados de vieses de confusão que podem ser responsáveis pelo aparente benefício. Pode haver diferença clínica ou social entre filhos de mães que amamentam e filhos de mães que não amamentam. Desta forma, precisamos de ensaios clínicos randomizados. Fico a me perguntar por que em área de tamanho interesse social não há investimento no nível de evidência ideal. Segundo, precisamos saber a magnitude deste benefício. Qual o NNT da amamentação? A partir disso, uma mãe pode decidir se vale a pena ficar mais alguns meses sem trabalhar ou se é melhor voltar mais cedo ao trabalho.

Precisamos deixar os mitos e procurar as evidências. À luz das evidências atuais, acredito que amamentação deve ser incentivada. Por outro lado, não há razão para insistir em uma conduta sem evidência, se for instituida à custa de sofrimento, preocupação ou drama de consciência.

9 comentários:

  1. Taí uma campo em que a evidencia científica fica totalmente em segundo plano...aqui o intuitivo fala mais alto. De qualquer modo concordo quando voce diz que o sofrimento e a culpa não valem a pena; ''mais vale uma mamadeira tranquila que um peito estressado''.

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  2. Em um país como nosso, o leite materno realmente é uma opção segura e de custo zero, além de todo aspecto da ligação mãe e filhos, mas realmente existem outros aspectos emocionais e sociais que envolvem a amamentação. Como disse a colega Ursula mais vale uma mamadeira tranquila que um peito estressado.Há tres anos vivi a experiência da mamadeira tranquila e recentemente o estresse da obrigação de ter que ter leite com dois bebês prematuros internados na Neonatologia. Com eles em casa e sem culpa, voltei a mamadeira tranquila.Com ou sem evidências científicas, a amamentação tem que ser
    uma experiência tranquila e gratificante para o binômio mãe e filho.
    Ana Marice Ladeia

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  3. É por isso mesmo que nao tenho seguranca para recomendar a ninguem que pare de fumar. Haja vista a carencia de estudos de intervencao ou clinicos randomizados nessa area. Como esses pesquisadores imprudentes ousam tomar decisoes baseadas simplesmente em evidencias superficiais advindas de estudos de coorte e caso-controle... Pelo amor de Deus... nunca li nada tao absurdo.

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  4. A fatores de risco (tabagismo) não se aplica o paradigma dos ensaios clínicos, pois não é factível randomizar indivíduos para um fator de risco. Nestes casos, o forte grau de associação, relação dose resposta, plausibilidade e outros componentes dos Critérios de Causalidade de Hills nos trazem a segurança suficiente para propor o controle destes fatores de risco.

    A condutas que trazem benefício, porém a algum custo (no presente caso o custo não é financeiro), é sempre desejável que se busque o melhor nível de evidências para facilitar a tomada de decisão.

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  5. Seu post está baseado em infinitos preconceitos, o que está muito longe de sua proposta baseada em evidências. Quem te disse que só a mulher que não trabalha pode amamentar? Eu conheço centenas (sim, centenas, talvez milhares) de mulheres que trabalham e mantém a amamentação, inclusive segundo as recomendações da OMS, por dois anos ou mais, inclusive esta que vos fala. Quem te disse que amamentar é só benefício nutricional? Voce está ignorando todo o lado afetivo e psicológico da amamentação. Sinceramente? Fale de cardiologia, porque disso você talvez entenda, porque de amamentação você não sabe nada.
    A propósito, você foi amamentado?

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    1. ESSA SENHORA LEU O MESMO TEXTO QUE EU LI ????

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  6. Posso falar que passei por tudo isso que Luís colocou: mamilos doloridos, a sensação de fracasso quanto a incapacidade de manter o aleitamento exclusivo, a culpa quando introduzi a primeira mamadeira, ... tudo para me sentir ofertando o "melhor" para minha filha que hoje tem 5 meses. O que aprendi? Aprendi que o equilíbrio é tudo! Mantive o aleitamento exclusivo até quando pude. Tive que trabalhar. Hoje, mantenho o aleitamento associado com a suplementação indicada pela pediatra. Minha filha está saudável e feliz e, quando posso, eu a amamento sempre e acho muito prazeroso. Precisamos acabar com a paranóia. Achei muito bem colocado o que disse minha amiga Ursula :" ... mais vale uma mamadeira tranquila do que um peito estressado."

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  7. Luis, texto excelente, estou lendo todas as suas postagens aos poucos e começo a entender um pouco mais o raciocínio científico baseado em evidência. Não fui atrás de evidencias atuais sobre o assunto amamentação, mas terminei o texto pensando na seguinte hipótese nula: amamentar é o alimento primordial pra criança, biologicamente falando. E na plausibilidade também: entre o leite materno, que biologicamente nutriu nossa espécie por 200.000 anos (Homo Sapiens Moderno) e um leite em pó enlatado prefiro o leite materno, não? Parabéns pelo blog. Grande abraço.

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  8. Há uma forte associação entre postagem "polêmica" e comentários mal educados.

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