Publicado esta semana no Journal of the American College of Cardiology uma revisão sistemática a respeito dos efeitos cardiovasculares de ervas utilizadas como terapia complementar. Este artigo mostra diversas ervas possuem efeitos cardiovasculares e interações medicamentosas indesejadas. Ervas predispõem a sangramento, hipotensão, hipertensão, taquicardia, efeitos neurológicas, etc. Além disso, nenhumas destas ervas tem benefício cardiovascular comprovado. Já comentamos em post anterior que um recente ensaio clínico randomizado mostrou que Ginkgo Biloba não melhora função cognitiva. Da mesma forma, um ensaio clínico demonstrou que alho não reduz colesterol, como muitos pensam.
O pior problema vem do fato das ervas serem consideradas alimentos e não drogas. Isso faz com que ervas não estejam sujeitas às regras dos medicamentos: antes da comercialização, não há exigência de comprovação de segurança, nem eficácia; não há controle de qualidade a respeito dos métodos de fabricação e armazenamento; não há conhecimento adequado a respeito de interações com medicações; falta vigilância de efeitos adversos pós-marketing; e permitem-se estratégias de marketing não éticas, que utilizam falsa propaganda em revistas, rádio, televisão.
Apesar de todas estas deficiências, há uma falsa percepção coletiva de que produtos naturais são mais seguros. Tem sido vertiginoso o crescimento do consumo de ervas nos Estados Unidos, e (pasmem) o número de visitas a médicos complementares supera o número de visitas a médicos tradicionais, com gasto pessoal com medicamentos alternativos superando o gasto pessoal com tratamento tradicional (vide figura).
A alternativa da evidência científica é o mito. Medicina baseada em ervas é medicina baseada em mito.
Postagem bastante interessante, uma vez que abre margem para alguns questionamentos do cotidiano... (1) Como o atual currículo da graduação exige um contato mais próximo da população, freqüentemente somos questionados com relação à práticas populares. Por desconhecimento e comodidade, relevamos seu uso pela população e não buscamos evidências do benefício (e, em muitos casos, malefício) daquela conduta aparentemente inocente. Um exemplo em particular era do uso de casca de ovos para mulheres com osteopenia/osteoporose em uma dada comunidade. Além da casca de ovos não ter nenhuma absorção gastrointestinal, o problema maior era que essas mulheres deixavam de usar a prescrição médica de carbonato de cálcio + vitamina D. Uma rápida leitura para embasamento e uma orientação clara para essas mulheres teria resolvido o problema.
ResponderExcluirE, aproveitando a deixa, nos deparamos com a segunda questão: por que será que a medicina alternativa se sobrepõe a medicina tradicional? Será que não falta nesse segundo grupo uma visão mais humana e maior acolhimento ao paciente alternativo? Às vezes, ao taxarmos hábitos culturais e com evidências científicas de ineficácia como “inferiores” sob nosso ponto de vista, acabamos estigmatizando seus praticantes e os afastando de condutas eficazes. Cabe aqui uma adequação na forma de transmissão do saber científico (o que deveria ser inerente ao profissional médico) para a maior adesão do seu interlocutor de práticas baseadas em evidências cintíficas...
Paulo,
ResponderExcluiruma vantagem da medicina complementar (alternativa) sobre a medicina tradicional é exatamente seu olhar humano e acolhedor. Isso precisamos aprender com a comunidade alternativa.