Os formadores de opinião muitas vezes exageraram na medida da magnitude do benefício trazido por uma nova terapia.
Exemplo: recentemente chamamos a atenção para o estudo PLATO, que mostrou o Ticagrelor como superior alternativa ao Clopidogrel na prevenção de eventos isquêmicos, sem aumentar sangramento. Sem dúvida isso é uma vantagem, mas no final da postagem lembramos “embora o Ticagrelor seja uma evolução farmacológica, não é uma panacéia”.
Mas esta semana Greg Stone escreveu no Lancet (ahead of print): “ticagrelor as a landmark event that will redefine the care of ACS patients.” Exagero, pois a sua superioridade em relação ao Clopidrogrel não é de grande magnitude, com número necessário a tratar (NNT) para prevenção de eventos combinados acima de 50.
“The primary endpoint, the rate of CV death, MI, and stroke, was reduced from 10.7% in the clopidogrel arm to 9.0% in the ticagrelor arm, a highly significant (p=0.0025) reduction of 16%”. Primeiro, significância estatística não é igual a significância clínica. O valor de P muito pequeno não significa grande benefício, significa uma pequena probabilidade do acaso. Segundo, redução relativa do risco (16%) não retrata bem magnitude do benefício. Se jogarmos dois cartões na megasena, aumentamos em 100% a probabilidade de ganharmos. Mas do ponto de vista absoluto, o aumento é mínimo, de 1/50 milhões para 2/50 milhões. Então devemos calcular a redução absoluta do risco = 10.7% - 9% = 1.7%, o que dá um NNT de 100/1.7 = 59 para prevenir um evento. Existe superioridade do Ticagrelor em relação ao Clopidogrel, mas esta modesta.
Em conclusão, quando falamos de benefício de uma terapia, não podemos pensar de forma dicotômica. Após concluir por um benefício, devemos sempre mensurar corretamente a magnitude deste benefício. Assim tomaremos decisões médicas mais corretas ao decidir de forma individualizada entre o novo e o velho.
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