Uma das áreas onde a conduta médica tem sido mais baseada em mito do que em evidência é a avaliação cardiovascular pré-operatória de cirurgia não cardíaca. Alguns atos médicos não oferecem benefício ao paciente, porém são comumente indicados nesta situação: realização rotineira de teste ergométrico ou exames funcionais mais complexos; procedimentos de revascularização antes da cirurgia não cardíaca; uso de beta-bloqueadores. Está demonstrado cientificamente que estas condutas não reduzem incidência de infarto perioperatório, sendo que o uso de beta-bloqueador pode aumentar mortalidade de acordo como o maior dos estudos (POISE). Este estudo iniciou o uso da droga 24 horas antes da cirurgia e a dose foi relativamente alta. Isso pode ter sido o motivo para o resultado negativo, o que justifica a realização de novos estudos. Porém este raciocínio não é suficiente para justificar o uso destas drogas no pré-operatório, pelo menos até que segurança e eficácia de esquemas alternativos sejam comprovadas em estudo de tamanho amostral adequado. Quanto à revascularização, ensaios clínicos randomizados demonstram que não há redução de eventos quando comparado à conduta conservadora.
Este foi o tópico de uma lúcida Perspectiva escrita por Chopra et al, no último número dos Archives of Internal Medicine (http://www.annals.org/content/152/1/47/T2.expansion.html).
Vejam o trecho principal:
"Many current perioperative practices reinforce an unsustainable increase in health care expenditure. For instance, perioperative coronary revascularization does not improve outcomes in patients with stable coronary disease. Similarly, perioperative stress testing benefits far fewer patients than current implementation rates justify, and indiscriminate perioperative β-blocker therapy can cause harm when not directed to clearly defined, at-risk patient population. Perioperative medicine has thus come to represent an excellent target for health care reform and must strive to become more evidence-based in an era of unprecedented and increasing health care costs. "
Excelente Luis; esses dados corroboram a impressão de que em pacientes estáveis, bem conduzidos clinicamente nas suas patologias de base, podem ser operados sem maiores problemas; nesses 06 anos de prática clínica, não necessitei de nenhuma intervenção coronariana antes dos procedimentos cirurgicos, na cidade do interior em que trabalho, e não houve relato de complicações cardiovasculares perioperatórias.
ResponderExcluirNeudson Gomes