sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O Paradoxo Risco-tratamento

O paradoxo risco-tratamento é um fenômeno caracterizado por algumas situações clínicas onde pacientes de maior risco recebem menos tratamento, enquanto pacientes de menor risco recebem mais tratamento.

No Circulation ahead of print foi publicado esta semana dados do Registro Observacional ACTION, que contempla 30.000 pacientes com SCA sem supradesnível do ST e 19.000 pacientes com infarto e supradesnível do ST. O artigo foca na questão da disfunção renal. Primeiro mostra que quanto pior a função renal, maior risco de eventos recorrentes (isso já se sabe). Segundo, o paradoxo: quanto pior a função renal, menos tratamento o paciente recebe. Isto ocorre com tratamento medicamentoso, intervencionista e até mesmo medidas como dieta e estimulo a atividade física.

O maior determinante do paradoxo risco-tratamento é a falta de decisão baseada em evidência. Ou seja, a tomada de decisão clínica deve levar em conta o risco de eventos recorrentes, que deve ser estimado pelos marcadores de risco estabelecidos. Caso isso seja feito, a chance do paradoxo se reduz, pois quanto maior o risco, maior o benefício absoluto que o paciente desfruta da terapia.

O mais clássico exemplo do paradoxo risco-tratamento é o problema da idade. Idosos são os pacientes de mais alto risco dentre a população de síndrome coronariana aguda, porém a idade muitas vezes inibe a adoção de estratégias invasivas de tratamento. Outro exemplo: idosos com fibrilação atrial são mais predispostos a AVC embólico do que jovens. Mas são os que menos recebem anticoagulação. Mesmo que estes pacientes sejam mais vulneráveis a efeitos colaterais, o benefício absoluto neles é ainda maior, o que resulta em vantagem de adotar as estratégias de tratamento. É só uma questão de balancear risco/benefício.

2 comentários:

  1. Professor olho seu blog toda semana ...muito massa
    Abração

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  2. Luis, excelente comentário; realmente é o que observamos na prática clínica; uma população cada vez mais envelhecendo, com mais cormorbidades e patologias associadas, maior probabilidade de aterosclerose e um menor grau de investimento.
    A fibrilação atrial e a insuficiência renal crônica, como comentado, são bons exemplos.
    Neudson Gomes.

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